Região
Comunidade de Palmas relata dificuldades com pausa de transporte coletivo
por Melissa Louçan
Para a comunidade rural de Palmas, localizada a cerca de 60 km da zona urbana de Bagé, se deslocar até a zona urbana se tornou uma dor de cabeça. Parte do trajeto é feito por estradas de terra no interior do distrito, que não apresentam condições adequadas para trafegabilidade, deixando os moradores que não tem transporte pÅoprio ilhados na zona rural ou recorrendo a alternativas que pesam no bolso.
Ana Paula Medeiros, 35 anos, moradora da localidade de Pedra Grande, em Palmas, relata que há mais de três meses a linha de ônibus, operada pela empresa Stadtbus, deixou de funcionar. “Eles alegam que a estrada da subida da Pedra Grande está muito ruim, e realmente está, mas é só ali. O resto do caminho não está tão ruim, pois o ônibus escolar passa todos os dias”, diz ao sugerir que, ao menos, o ponto final da linha fosse até a antiga venda da Zilda Oliveira, o que já ajudaria significativamente os moradores. "Precisamos muito dessa linha. Pagamos na base de R$ 300 de carro de aplicativo até Bagé", desabafa - esse valor refere-se apenas a uma parte do trajeto, já que ida e volta seria o dobro. Ela costuma ir ao centro da cidade uma vez por mês, às vezes mais. "Se o ônibus viesse pelo menos uma vez por mês, sempre no começo do mês, já nos ajudaria muito", completa.
Lisiane Soares Carvalho, residente do Corredor da Lixiguana, também enfrenta dificuldades similares. Ela relata a necessidade urgente de transporte para a comunidade da Pedra Grande, onde parte de sua família reside. Segundo Lisiane, a empresa Stadtbus justificou a interrupção do serviço devido ao perigo na subida da Pedra. Lisiane também vê na alteração do ponto final para a Venda da Zilda um trajeto alternativo para evitar a subida perigosa e mantendo o atendimento para cerca de 20 famílias. “Muitas pessoas dependem desse transporte, já que nem todos possuem veículos próprios. O custo de um carro de aplicativo é inviável para a maioria”, relata.
Na localidade de Pedra Grande, a retomada do transporte coletivo continua sem previsão. O gerente da empresa Stadtbus, André Fernandes de Oliveira, ressalta que a questão é ainda maior. Segundo ele, as vias apresentam riscos significativos por terem trechos de pedra, o que torna a pista lisa e sem aderência adequada para os veículos, que acabam deslizando e derrapando.
Oliveira destacou que as estradas são extremamente estreitas, permitindo a passagem de apenas um veículo por vez. Destaca, ainda, que testou o caminho com transporte de diferentes tamanhos, mas nenhum deles ofereceu segurança suficiente, segundo sua avaliação. “Se encontrarmos outro veículo no caminho, não tem como dar ré para dar passagem”, explica. O gerente enfatiza a inviabilidade de operar na área com as condições atuais. “É intransitável do jeito que está. Não posso assumir o risco de colocar um ônibus ali e causar um acidente. Seria necessário alargar totalmente a pista, porque, como está, não oferece nenhuma segurança, é muito precária”, afirma.
Mesmo uma rota alternativa foi descartada por ele, já que a largura da estrada seria uma constante em todo o trajeto. Além da falta de segurança, Oliveira aponta que a rota não é financeiramente viável para a empresa. Ele comenta que, quando ativa, com viagens a cada 15 dias, percorria mais de 300 km para atender cerca de 20 pessoas. “Não conseguimos pagar nem o diesel, além de oferecer um risco muito alto”, conclui.
Gislaine de Paula Rodrigues, 33 anos, também é moradora das Palmas, mas em uma outra localidade, na Pedreira, que também enfrenta dificuldades com o transporte coletivo, operada pela empresa São João Transportes na área. Conforme relata, o transporte, que anteriormente operava três vezes por semana (segunda, quarta e sexta), agora funciona apenas duas vezes (segunda e sexta). A ausência do serviço em dias chuvosos ou mesmo com garoa leve força os moradores a contratarem transporte particular, gerando custos adicionais. "Quando não passa, eu pago alguém para me levar até a faixa", lamenta.
Zilamar Dias Alves, moradora de Palmas, na região de Coxilha das Flores e Rincão dos Valérios, relatou a grave situação das estradas locais e o impacto sobre o transporte escolar. “A estrada está em péssimas condições, com muitos buracos, o que frequentemente causa a quebra dos ônibus e resulta em semanas sem aulas para meus filhos, que estudam na Escola Simões Pires”, explica a moradora, ao ressaltar que a comunidade depende do transporte para acesso a serviços essenciais como exames, alimentação e medicação e a falta de transporte adequado e a má qualidade das estradas prejudicam significativamente a vida dos moradores.
Lázaro Ricardo Souza, gerente da empresa São João, explica que não há previsão de aumentar a periodicidade do transporte, que faz o trajeto de Caçapava do Sul a Bagé, via Coxilha das Flores. Segundo ele, o cronograma de viagens foi adequado à demanda da empresa na localidade.
Sobre as condições de tráfego, Souza afirma que geralmente a empresa consegue cumprir a rota, já que as estradas do trajeto atendido não apresentam más condições em tempo seco. No entanto, durante períodos chuvosos, ele confirma que há dificuldades de acesso a alguns locais, o que impede a conclusão do trajeto.
O que diz o município
{AD-READ-3}Em resposta, a Secretaria de Desenvolvimento Rural informou que não tinha conhecimento de que a localidade estava sem atendimento de transporte público em função das más condições de trafegabilidade. A pasta informou que mantém contato direto com alguns moradores e nenhum até o momento relatou o problema.
Contudo, através da assessoria, a Secretaria informou que está com uma equipe de manutenção e reparos, com colocação de bueiros, na Estrada da Lixiguana e que, nos próximos dias, já deve avançar para outra estrada.