Opinião
A insurreição na Artilharia
por José Carlos Teixeira Giorgis
por Redação JM
Os anos vinte foram sacudidos por diversas sublevações, em geral militares, a começar pelo movimento tenentista do Forte de Copacabana em 1922, seguindo-se outros em 1924 e 1925, o exílio do general Isidoro Dias Lopes, a Coluna Prestes. Nas noites de 13 e 14 de novembro de 1926 aconteceriam os fatos de São Gabriel e Bagé.
O primeiro deu-se no 9º Regimento de Cavalaria Independente (RCI) da “Terra dos Marechais”. Liderados pelo sargento Walter Corrêa da Silva, os rebeldes foram para a Ponte Seca, onde lutaram, por pouco tempo, contra as forças policiais e civis durante a madrugada. Esperavam eles a repercussão em outros quartéis e ações de seguidores do general Isidoro e de políticos gaúchos.
Walter, embora subalterno, foi o grande comandante desta força: e como revela em diário que escreveu, depois publicado por descendente de Bagé, manteve unida a tropa aquartelada, resistiu a conselhos que abonavam a submissão ou a saída de São Gabriel, e apenas seria convencido, mais tarde pelo tenente Vicente Mário Castro, parceiro na conspiração, levando os sublevados para Caçapava aos cuidados do coronel oposicionista Favorino Dias, cuja propriedade se situava no Seival, onde seria ferido Oswaldo Aranha, mais tarde aos cuidados médicos do Dr. Gafrée, evento que já foi tratado alhures nesta coluna.
Como narra o historiador Corálio Cabeda, em texto que examina a situação, tal revolução “nasceu morta”, não surpreendendo o governo estadual ou sequer a Região Militar, que logo agiram contra os revoltosos. De longe, o general Isidoro recorria a seus adeptos para auxiliar os insurretos, eis que forma de “manter aceso o facho revolucionário”, objetivando a obstrução da posse de Washington Luis.
De São Gabriel partiu um sargento buscando apoio dos militares da então Bateria do 3º Grupo de Artilharia a Cavalo, eis que neste ano de 1926 o Regimento fora reduzido. Chega na madrugada de 14 de novembro e consegue convencer seus colegas, depois de prender a guarda. Logo chega o 1º tenente Álvaro da Cruz Marques, que dá voz de prisão aos mesmos, mas é abatido por um tiro, findo a falecer no domingo. Mesmo ferido, o militar escreve com seu sangue, no piso de madeira, o nome de da esposa e da mãe.
Após chega ao Regimento o capitão Félix de Azambuja Brilhante, logo avisado para que se proteja. O comandante, todavia, de pistola em punho, prende a guarda, abre o xadrez e solta seus dirigidos. Logo também o faz com líder da insurreição. Acabava a triste aventura. Além de São Gabriel e Bagé apenas em Santa Maria houve sedição com os irmãos Etchegoyen. Em São Leopoldo ela não teve maiores sinais.
{AD-READ-3}O tenente Álvaro Marques, segundo necrológio do Correio do Sul, era casado, em data próxima ao fato, com a Sra. Geny Pereira Marques, filha do Sr. Joaquim Luiz Pereira. Anos após a viúva, viria a casar-se com o Dr. Mariano Niederaurer. O Dr. Ruy Pereira Niederaurer, filho do casal, depois de erudito exercício da advocacia, assim como seu genitor, foi Juiz Militar da Auditora de Bagé, com exercício funcional de destaque, encontrando-se jubilado. Uma das ruas da cidade homenageia o capitão Álvaro da Cruz Marques.
O capitão Walter Corrêa da Silva, depois de anistiado e cumprir sua carreira militar veio para Bagé, constituindo exemplar prole. Residiu na avenida General Osório, proximidades do Ed. Gen. Ladário Pereira Telles. Depois, em propriedade na zona norte, hoje vizinha do Ed. Bela Itália, em sítio onde moram alguns de seus descenderdes. Tive a ventura de conhece-lo, como seus familiares. Mantinha-se firme em seus ideais. Seu diário sobre a revolta é a descrição fiel do que ocorreu e um dos raros testemunhos existentes.