Eleições 2024
“Estou candidato novamente atendendo um apelo da comunidade”, afirma Mainardi
por Redação JM
O candidato Luiz Fernando Mainardi, 63 anos, é formado em Direito e disputa a Prefeitura de Bagé pelo PT. O postulante lidera a chapa ‘Bagé de todos com a força do povo’, composta por Podemos, Avante, PSB e a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV).
Mainardi é deputado estadual e já foi prefeito de Bagé duas vezes, entre 2001 e 2008. Também foi secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, no governo de Tarso Genro, deputado federal e vereador em Bagé. Seu candidato a vice-prefeito é o empresário Gilberto Alagia, do Podemos.
Na primeira entrevista da série produzida pelo Jornal Minuano, o candidato do PT apresenta propostas para áreas da saúde, educação e segurança, respondendo questionamentos relacionados a demandas nos setores de infraestrutura, mobilidade e gestão.
Minuano: Por que decidiu disputar a eleição municipal em 2024?
Mainardi: Estou candidato novamente atendendo um apelo da comunidade, das lideranças locais, políticas, empresariais, comunitárias, para que eu volte a reorganizar o nosso município. Já fui prefeito, em uma situação bastante difícil. Abri mão de ser deputado federal, já havia sido reeleito deputado federal, e resolvi, naquela vez, me dedicar ao governo municipal, à Prefeitura de Bagé, porque se encontrava numa situação absolutamente caótica. Sou candidato, novamente, porque a situação hoje é pior do que anterior. Ela é pior do ponto de vista da infraestrutura da cidade, uma cidade absolutamente abandonada, uma infraestrutura urbana que envergonha pelo desleixo, pela irresponsabilidade, pela incompetência do atual governo. Sou candidato porque há um apelo forte para substituirmos uma quadrilha que se instalou na prefeitura, que desvia dinheiro e é alvo de várias operações da Polícia Federal, do Ministério Público, do Gaeco. Portanto, isso tem que ser substituído. E nós pretendemos coordenar um processo de recuperação da infraestrutura da cidade e recuperação moral da nossa cidade. Quero liderar um processo de entendimento, de busca de soluções em permanente diálogo com o governo do estado e com o governo federal, coisa que hoje também não existe. Portanto, nós precisamos, em Bagé, do mesmo lema que hoje está se utilizando pelo governo federal, de união e reconstrução.
Minuano: Na sua opinião, quais são as principais demandas na área da saúde e como seu governo poderia enfrentá-las?
Mainardi: Certamente, nas áreas sociais, a saúde hoje em Bagé é a mais desleixada. Esse atual governo teve oito secretários na área da saúde durante esses seus dois mandatos. Os postos estão abandonados. Faltam médicos. Faltam medicamentos. Voltou aquilo que nós tínhamos já superado no atendimento com fichas. Nós tínhamos médicos especialistas. Nós tínhamos odontólogos. Criamos o SAMU, hoje totalmente desestruturado. Também criamos a UPA, hoje também absolutamente deixada de lado. Estou dando esse quadro para dizer que o desafio que temos pela frente envolve recuperar a atenção básica de saúde, qualificar a nossa UPA, o nosso SAMU. Tratar os hospitais com respeito. Quero ser parceiro do governo do estado, do governo federal, para diminuir as filas de consultas especializadas, de exames e de cirurgias. É para isso que tem que ser aplicado o dinheiro público.
Minuano: Na sua opinião, quais são as principais demandas na área da educação e como seu governo poderia enfrentá-las? Em sua gestão, existe previsão de manutenção das escolas cívico-militares?
Mainardi: A educação é um setor estratégico para o desenvolvimento de uma cidade. Eu sou muito orgulhoso de tudo que fizemos quando fui prefeito. Sou parceiro, hoje, da Urcamp, para buscarmos o curso de medicina. Fizemos um grande movimento que resultou na conquista da Unipampa. Lideramos um processo e conquistamos o Instituto Federal de Educação. Compramos uma escola técnica, compramos a maior estrutura de escola privada do município, assumimos o Bidart. Construímos escolas e refeitórios do Fome Zero. A estrutura física hoje está instalada. Então, precisamos ampliar a educação infantil. Tenho como objetivo chegar a 100% da cobertura do ensino infantil. Temos que requalificar a nossa educação. Precisamos garantir que os uniformes escolares cheguem no tempo certo. Antes de chegar o inverno, tem que chegar as roupas de inverno. E antes de chegar o verão, tem que chegar as roupas de verão. As escolas cívico-militares não têm mais financiamento público nacional. O município está dispendendo recursos num modelo absolutamente superado. O que vamos fazer é garantir e viabilizar, em parceria com o governo federal, as escolas de turno integral. Portanto, aquele modelo anterior foi superado por um novo modelo. E é esse novo modelo que nós vamos implementar.
Minuano: O piso salarial profissional nacional do magistério é uma demanda da categoria. A medida também representa uma das estratégias do plano municipal de educação. O pagamento é uma meta de gestão? Como alcançá-la?
Mainardi: Meu compromisso é, primeiro, pagar em dia. Em segundo lugar, conceder, a partir do ano que vem, os reajustes ao piso municipal de acordo com os reajustes do piso nacional. E com o tempo, de acordo com o desempenho das finanças, iremos aumentando o valor do piso municipal acima deste percentual nacional. Por que eu digo que tem que ser de acordo com as finanças? Porque o município de Bagé fechou o ano passado com 67% de comprometimento da receita corrente líquida, o que é uma total irresponsabilidade. E o que eu estou falando pode ser verificado. Isso acontece, primeiro, porque caiu a receita, e caiu porque aumentaram demasiadamente os impostos. E segundo, porque tem lá na prefeitura mais de 300 CCs.
Minuano: Qual é a sua principal proposta para o setor da segurança?
Mainardi: O governo atual criou a Guarda Municipal. Eu vou fortalecer tanto a Guarda Municipal quanto os agentes de trânsito. Ela tem que compor um programa que, no meu entendimento, tem que ser coordenado pela Secretaria de Segurança e Mobilidade Urbana. Segurança pública se faz com dois elementos fundamentais: de um lado é inteligência e do outro lado é força. Hoje, o município tem um pouco de força, mas não tem nenhuma integração com a Brigada Militar, com a Polícia, com a Polícia Federal e com a Polícia Rodoviária. O gabinete de gestão integrado de segurança pública tinha um controle da cidade a partir do videomonitoramento, que desapareceu ao longo dos últimos anos. Então tem que se recompor tudo, para que a gente volte a ter o gabinete de gestão integrado.
Minuano: Relatório divulgado pela Fepam, em junho do ano passado, aponta que diferentes parâmetros de qualidade estiveram acima dos limites da pior classe na estação localizada no arroio Bagé, manancial que corta a cidade. O candidato tem alguma proposta para reversão e conservação dos arroios da cidade?
Mainardi: Quando eu saí da prefeitura, deixamos recursos assegurados, que hoje estão no PAC, para fazer a coleta de esgotos. Até hoje não conseguiram concluir. Passaram dois governos. Foram 16 anos e não conseguiram concluir as obras por incompetência e responsabilidade com a questão ambiental. Tem R$ 40 milhões para essas obras. Quero dar continuidade àquele projeto que eu iniciei. Vou trabalhar muito para que a gente chegue até o final do governo com grande parte do esgoto coletado e grande parte do esgoto tratado para que a gente recupere os nossos arroios. Minha vida na política, ela tem uma relação direta com isso. Para ter uma ideia, depois da ditadura militar, descemos pela Avenida 7 de Setembro, com José Lutzenberger, indo até a Panela do Candal, dizendo que queríamos a limpeza do arroio Bagé. O nome da campanha se chamava Bagé, Arroio que Te Quero Vivo. E eu continuo querendo o arroio vivo.
Minuano: Bagé conta com mais de 100 quilômetros de vias urbanas sem pavimentação. Muitas também não têm passeio público. O candidato tem algum projeto para reverter este cenário?
Mainardi: Precisamos recuperar nossa capacidade de manutenção das vias não pavimentadas. Precisamos recuperar as ruas pavimentadas com pedra, com paralelepípedo ou com asfalto. É uma buraqueira só, por onde se anda. Tem recursos que para a obra de pavimentação do bairro Castro Alves, que até hoje não saiu do papel por não ter projeto. O governo passado deixou R$ 30 milhões para as obras de pavimentação da Zona Leste. E até agora, durante esses oito anos, eles não conseguiram executar. Tem ainda R$ 15 milhões na conta da Caixa, que é um financiamento que foi feito. E quero buscar novos recursos. Por isso é importante a relação com o governo federal, que somado com os recursos nossos da Prefeitura, a gente possa continuar expandindo as pavimentações.
Minuano: Fundamental para a economia, o setor primário dependa da infraestrutura viária. Como garantir a manutenção das estradas vicinais?
Mainardi: Eu acho que Bagé precisa de um tratamento de choque nessa questão. Deve ser a campeã brasileira de buracos. Temos um parque de máquinas destruído, que não teve manutenção. Bagé tem ou teve não sei quantas máquinas, patrolas, e não foi feita manutenção ao longo do tempo, então não tem estradas. Para garantir a manutenção das estradas vicinais precisamos de equipamentos adequados, servidores respeitados e secretários competentes para coordenar as equipes que vão para o interior fazer o trabalho. Os produtores rurais e os motoristas dizem que, nos últimos 50 anos, o melhor governo em termos de estradas rurais foi o nosso. E a gente pretende continuar fazendo o que já fizemos.
Minuano: A frota de veículos do município recebeu cerca de 20 mil novos veículos em uma década, alcançando 78.913 unidades em julho. O aumento cria desafios no terreno da mobilidade urbana. Como resolver os gargalos do trânsito bajeense?
Mainardi: Acho que isso requer um estudo muito sério sobre a mobilidade. Precisamos desenvolver projetos para fortalecer o uso da bicicleta. Acho que temos que pensar em desenvolver regiões da cidade. Hoje, tu vais pela José do Patrocínio, na direção da grande São Judas, quando tu dobras na avenida, ali na igreja, já não tem mais a mesma coisa. Então é necessário que se faça uma recuperação daquela avenida, que se abra a partir disso a oportunidade das pessoas fazerem novos negócios. Isso vai descentralizando a cidade. A gente fez isso na região da Unipampa. É necessário fazer mais. A cidade não pode crescer nos seus bairros, e tudo que tiver que acontecer, acontece apenas no centro da cidade.
Minuano: A cidade conta com uma autarquia responsável pelo serviço de abastecimento de água e tratamento de esgoto. O Daeb, embora tenha autonomia financeira, é dirigido por diretor nomeado pelo prefeito. Na sua gestão, quais critérios deem nortear a indicação?
Mainardi: Reformulamos o Daeb. Construímos efetivamente uma empresa, fizemos concursos, coisa que não havia antes. Contratamos profissionais qualificados. Foi na nossa gestão que conseguimos universalizar a implantação de hidrômetros. O Daeb, quando deixei a prefeitura, deixamos R$ 12 milhões em caixa, que era contrapartida para a obra da barragem. Deixamos o projeto pronto da barragem, com recursos assegurados, e a inclusão do projeto da barragem no PAC. Fizemos todas as obras de diminuição da perda física. Implantamos mais de 25 mil, em torno disso, hidrômetros na cidade. Não conseguiram fazer mais do que 50% da parte física da barragem. E utilizaram até agora apenas 28% dos recursos destinados. Precisamos de um Daeb fortalecido, com uma condução técnica comprometida com o interesse público. Na nossa gestão será, de novo, um dos lugares mais respeitados e mais cuidados pessoalmente por mim, porque sei da importância da construção da barragem, que é nossa grande prioridade e vamos concluir em nosso governo.
Minuano: O Marco do Saneamento estabelece metas de universalização que garantam o atendimento de 99% da população com água potável e de 90% com coleta e tratamento de esgotos até 31 de dezembro de 2033. Considerando que a próxima gestão deve cobrir metade do prazo, o que deve ser feito para garantir o cumprimento da meta?
Mainardi: A responsabilidade é do município. E vamos atingir isso, já poderíamos ter atingido se não fosse o desleixo do passado. Os recursos existiam e existem. O que tem que se fazer é ter competência para fazer projetos e executá-los, coisa que eles não fazem. Repito, eu saí da prefeitura deixando os recursos necessários para chegarmos a pelo menos 80% da coleta com tratamento de esgotos. E eles não conseguiram evoluir, não conseguiram avançar. Então, nós vamos chegar, com certeza, antes deste período, atingindo essa meta do Marco do Saneamento.
Minuano: A manutenção do Fundo Municipal de Pensão e Aposentadoria do Servidor (Funpas) é uma questão central para os servidores do município. O candidato tem algum plano para amortizar o passivo atuarial e garantir as aposentadorias?
Mainardi: O Funpas foi criado quando eu fui prefeito. Ao longo desse tempo, tivemos a falta de recolhimento, o que foi extremamente agravado nos últimos tempos. Ninguém sabe qual é a real situação, porque não é dado publicidade. E não é um problema apenas dos servidores, é um problema da cidade de Bagé, da população como um todo. Porque se procede a informação de que o governo deixou de pagar R$ 140 milhões ao Funpas, esse dinheiro, em algum momento, vai ter que ser pago. E esse dinheiro é o dinheiro que, uma vez colocado lá, não vai se poder colocar na conservação de ruas, na pavimentação, na área da saúde. Se tem uma marca no próximo governo que eu haverei de fazer, é a marca da transparência. Não há nada na prefeitura que não possa ser de domínio público. A transparência é condição para que a cidadania conheça os negócios públicos, para que os vereadores possam exercer seu papel de fiscalizadores. Esse tema do Funpas é um escândalo. Uma vez eu ganhando as eleições, vou tornar público e as pessoas vão ter a dimensão da situação. E se tiver que pagar o valor, se tiver que pagar num curto espaço de tempo, esse rombo da previdência, vai faltar dinheiro em outras áreas. É uma situação dramática o que nós vamos enfrentar em relação ao Funpas.
Minuano: O próximo prefeito não deve dispor de cargos de confiança, extintos por reforma administrativa implementada pela gestão atual. O candidato estuda promover nova alteração na estrutura administrativa, restaurando os cargos, ou pretende manter a extinção?
Mainardi: Hoje o governo tem em torno de 350 CCs. No final do ano passado eles mandaram para a Câmara um projeto extinguindo, deixando um CC apenas por secretaria. Com isso eles assumem, em primeiro lugar, a percepção da derrota nas eleições. E é o que vai acontecer. Em segundo lugar, é que ninguém mais governa sem CCs. Todos os poderes e órgãos hoje funcionam com assessoria de confiança, que são aqueles que o gestor chama para trabalhar até mais tarde, que não tem hora, que são importantes no serviço público. Eles são complementares no serviço público profissional. De um lado, eles confessam, ao propor isso, que vão perder as eleições. E, de outro, eles acabam confessando uma coisa abominável, porque entendem que sem CC não dá para governar. E como eles acham que vão fazer maioria na Câmara, eles querem inviabilizar o próximo governo. E isso é abominável. Antes das eleições eles já estão querendo que o próximo governo se dê mal, que se inviabilize e que nada dê certo. A preocupação deles não é com a população. É com os objetivos políticos mesquinhos, pequenos. Mas eles vão perder a eleição. Também vamos fazer uma ampla maioria de vereadores, porque ninguém mais suporta aquela Câmara submissa a tudo o que aconteceu em Bagé. Vamos trabalhar muito para ganhar as eleições e fazer uma expressiva bancada de gente séria, que vão para lá para fazer um verdadeiro debate. E não fazer o que fizeram nesses últimos tempos, que é de envergonhar a qualquer democrata e a qualquer cidadão que tem noção do que é política e do que é a seriedade no exercício de um mandato parlamentar.
{AD-READ-3}Considerações finais
Mainardi: Eu acho que a síntese de tudo isso é o seguinte, nós precisamos recuperar a cidade de Bagé do ponto de vista da sua infraestrutura e do ponto de vista moral. Ninguém mais suporta o que nós estamos vivendo hoje em Bagé. Vão andar pelas ruas ao ver que as obras não andam, ao ver que os serviços públicos decaíram enormemente e ao mesmo tempo ver que Bagé virou notícia nas páginas dos jornais e dos informativos nacionais pelos escândalos de corrupção, de malversação do dinheiro público, dos esquemas que se montou nessa cidade. Isso tem que terminar. Então eu faço um apelo aqui no sentido das pessoas que desejam uma mudança, uma mudança com segurança. Já fui prefeito por oito anos. Não tivemos nada que nos desabonasse e fizemos um governo extremamente empreendedor. Peço para que nos dê novamente esta responsabilidade, para tirar Bagé dessa situação em que hoje ela se encontra.