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Opinião

Maritza, romãs e literatura simbólica

por José Carlos Teixeira Giorgis

Em 22/06/2024 às 04:13h

por Redação JM

O homem tem necessidade, segundo Faguet, de crer naquilo que não vê. É verdade que isso pode ser, ainda, aspiração de pessoa ou curioso que tenha “obsessão do invisível”, o que não se confunde com o sentimento religioso, e conduz aos “símbolos mágicos” de Gérin Ricard que os exemplifica com a evocação dos mortos, as alucinações de Poe ou as visões de Dante.

E o surgimento de ocultistas como Cagliostro ou Saint-Germain, alquimistas, “filhos do Egito e detentores de seus segredos”. Até São Mateus chama de “magos” os sábios que vieram adorar Jesus por haverem ‘lido nas estrelas” seu nascimento. E o Antigo Testamento, a propósito da construção da Torre de Babel, conta que junto de cada templo erguia-se uma torre ou pirâmide com degraus, referida por Heródoto como “Zigurat” ou “sala dos sonhos”. Em Ur, dedicada a Marduk, deus solar babilônico, a mulher que habitava a sala superior explicava os sonhos que o mesmo lhe mandava, pois, a interpretação tinha enorme importância para os povos da antiguidade (daí os oráculos, tábuas, horóscopos). Recordem-se outros processos de adivinhação (voos e gritos dos pássaros; fígado das aves, vísceras de cães, raposas, asnos, serpentes; a esfinge). Os esotéricos, aliás, trabalham suas lendas com alegorias que se expressam em símbolos.

Há escritores que explicam intenções subjacentes, mensagens cifradas, personagens, objetos ou coisas, utilizando-se de significados, alucinações, mistérios, predições. Maritza Pérez, assim procede, como revelam os títulos de alguns de seus contos publicados numa antologia (O leque de lêmures; O corredor dos rododendros, O bailado de Solidagas). Seus textos oníricos constam de imagens que escondem nos personagens ou fatos, inferências que se explicam, em geral, numa ciência oculta ou em algum mistério.

É o caso dos lêmures, primatas noturnos, arborícolas, corpos esguios, pelagem densa, ancestrais dos macacos. Uma descrição de manual. Sucede, todavia, que na Antiguidade Romana, representavam os espectros das pessoas mortas que atormentavam os vivos com suas assombrações e almas do outro mundo. Esmirna, designação da figura central da obra comentada, era uma amazona que conquistou Éfeso, mãe de Adonis. Significa “mirra”, mas também uma das 7 igrejas da Ásia para a qual foi enviado por João um exemplar do Apocalipse, aliás aludido no contexto. Erínia, outra figura da novela, que raspou e limpava os ossos como forma de depuração ou expiação de suas culpas assim se eximindo de qualquer memória, tem assento na mitologia grega e em peça de Ésquilo. Segundo uma enciclopédia, eram três as “Erínias” ou “Fúrias”. Puniam os mortais, torturavam as almas pecadoras julgadas por Hades, seu pai (a mãe era Perséfone). Alguns atribuem seu nascimento a uma “gota de sangue”. Eram as filhas da noite”, castigavam quem cometia crimes ou delitos de sangue. Temidas, viviam afastadas, tinham asas de morcego e forma de serpente (símbolo esotérico da fatalidade, influência do mal, mas também da astúcia, da perfídia; em alguns credos símbolo da prudência e da vitalidade).

Penso que boa parte da “mensagem” que Maritza deseja transmitir está na expressiva capa, da moça pura adormecida vigiada por outra bela (em luto?), que tenta segurar uma estrela (vagalumes?). A romã é símbolo de fecundidade, abundância e vida. Estava numa das Coluna do Templo de Salomão e representava o órgão feminino, diz Aslan. Os hebreus a tinham como fruta mística. Perto do Egito há um templo em que a estátua de Júpiter segura uma romã. Para a maçonaria os grãos da fruta, reunidos numa polpa transparente simbolizam a união dos irmãos em ideal comum. Sua intumescência, carregada de frutos, quer dizer abundância. É uma planta aromática e lúgubre, usada nas cerimônias fúnebres, pois acredita-se que seu aroma conserva o corpo do finado e suas folhas, sempre verdes, são o penhor da imortalidade e também símbolo da sinceridade.

No Diário de Esmirna, achado entre “pétalas de jasmim e excrementos de ratos”, escrito em letras que pareciam “aranhas e teias pontudas”, tio Elifas leu: Quando dei por mim, desfalecida na grama, havia uma fenda em minha cabeça e, por ela, escorriam para a terra amores, remordimentos, lembranças as mais remotas, ódios e desistências de mim. Com a cabeça esvaziada, livre da multiplicidade, tornei-me uma máscara, um retrato confinado a uma moldura. Minha filha comera os sete grãos de romã e o inverno se estabelecera para sempre”. Os últimos cânticos e preces deste Ofício de trevas ainda ressoavam na escuridão. A engrenagem do carro dourado rangeu e o cortejo dos mortos acompanhou o féretro rua abaixo.

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