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Opinião

O Minuano e Eu

Em 07/06/2024 às 06:00h

por Redação JM

O Minuano e Eu | Opinião | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler
Foto: Reprodução /JM

O Rio Grande do Sul, por incrível que possa parecer, é a maior província mineral do Brasil. Não tanto pela quantidade, mas pela variedade de minerais aqui encontrados. Esta é uma das
peculiaridades do nosso Estado, mas existem outras mais.

Uma coisa que intriga os meteorologistas, é a dificuldade de fazer qualquer previsão sobre o clima tempo, aqui nesta região. É tipo assim: um mistério como o Triângulo das Bermudas, coisa que até hoje ninguém conseguiu explicar. Não se sabe porque do Atlântico ao Pacífico, por aqui passa uma espécie de corrente, que dá origem a diversos ventos, coisa que não acontece em outros lugares do Brasil.

Temos aqui o vento Norte que bafeja calor ao ponto de deixar as pessoas fora de si, dizem até que o vento Norte é o vento da morte. Tem também o Nordestão que é um vento devastador
de colheitas. O Pampeiro que é um vento fortíssimo tendo por certas vezes a característica de ciclone.

Muitos outros são os ventos. Mas o nosso vento é o Minuano. Frio ao ponto de gelar os ossos, que no dizer do povo tempera o sangue do gaúcho, tornando-o forte e bravo por força da resistência. Se é verdade eu não sei, mas o certo é que quando sopra o Minuano não há agasalho que chegue, nem fogo que aqueça, é uma marca desta nossa fronteiro com o Uruguai.

Não poderia ter sido mais feliz na escolha do nome Minuano para este periódico, afinal, é fundamental que tenhamos um vento que nos sopre e que possamos soprar. Sou assinante do Minuano desde o início. A assinatura não está em meu nome, está em nome de minha mulher, por isso o jornal não publica a data do meu aniversário, o que me livra dos chatos que ficam cobrando a festa e outras coisas mais.

Sou leitor de livros, jornais e revistas, assino duas revistas nacionais, compro e ganho livros e assino dois jornais locais. E quando me perguntam porque faço isso e não vou para a internet, onde tem quase tudo, eu me vejo a dar infindáveis explicações, que muitas vezes as pessoas não entendem. O jornal e a revista são como um grande painel onde você tem uma visão geral sobre todas as coisas e assuntos, nada mais prazeroso do que folhear um periódico ilustrado com as várias sessões articulistas e editoriais. Publicações de nível regional, nacional ou internacional, te trazem notícias e acontecimentos do mundo, mas só o jornal local traz as notícias do teu mundo.

Antes tínhamos o rádio, hoje não temos mais. O governo entregou para as Tele as frequências de onda média e a onda curta, restando somente a frequência modulada, o que faz com que
quase que a totalidade das emissoras passem a ser meras retransmissoras, o mesmo acontece com a televisão. Por isso o Jornal Minuano, para mim, é uma espécie de tábua da salvação, é o que me liga ao mundo em que geograficamente eu vivo, ou seja, a minha aldeia.

Vai daí o meu carinho e o meu respeito com os jornais impressos que ainda resistem e que alguns dizem que vai terminar. Não acredito. O registro em suporte físico é inerente à condição
humana. Simplificando, diziam que o livro estava morto e o livro ressurge com toda a força, todo o dia. Diziam que o vinil já era, e hoje é sabido que o vinil é a moda do momento. Assim
como o livro e o vinil, o jornal impresso voltará um dia a se fortalecer, passado o modismo do digital.

E aí então as pessoas compreenderão o prazer que é de folhear um livro, um jornal e uma revista. O Minuano, como o vento que já começa a soprar neste outono, é o meu companheiro das manhãs. Chimarrão, um cigarrinho e as páginas impressas. Elas me contam da vida da minha gente e dos acontecimentos da minha cidade, coisas que outros veículos não fazem.

Pretendo continuar leitor de jornal, e este nosso há de resistir, não por mais de 30 anos, mas por mais 300 anos e, no futuro, alguém dirá: “tinha um louco que estava certo”.

Augusto Nunes foi chamado para reestruturar o Jornal Zero Hora. Uma das coisas que ele implantou, na reformulação, foram as casas Zero Hora. A ideia era ter um local aonde o leitor se
abrigasse e se encontrasse com seus cronistas. Veríssimo, Santana e outros mais. Quando da inauguração da Casa Zero Hora em Bagé lá estava eu. E naquele dia acabei fazendo dois
discursos, na condição de vice-prefeito que eu era. Os meus “discursos” nunca foram discursos, sempre usava e continuo usando a poética, a fábula, a parábola e outros elementos que
tornam o discurso agradável. Ao final do dia, o Augusto Nunes me deu um cartão e disse: “- Tchê, escreve essas coisas que tu falou que eu publico". Me passou um calafrio, e devo
confessar que, naquele momento, não tive coragem, não me via como cronista porque meu nível de exigência era muito alto.

Passado algum tempo, o Glauber Pereira me fez um desafio semelhante e eu criei coragem e comecei a escrever para o Minuano. Foram anos muitos prazerosos, o jornal me dava um
tratamento especial, chamada de capa, ilustrações do Claudio Falcão, todas as quartas-feiras. Melhor ainda, discutiam e até sugeriam assuntos.

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Resumindo, para mim foram momentos de afirmação, por saber que eu podia escrever coisas publicáveis, mas, com o passar do tempo, fui cansando e a coisa perdeu a graça. Sem saber
bem porque, parei de enviar matérias para o Minuano e até hoje sinto falta, especialmente das respostas de opiniões. Concluo dizendo que, provavelmente, o jornal não precise de mim, mas eu preciso do jornal. Estou criando coragem e, se o editor me aceitar, sou até capaz de voltar.

Revivendo aqueles bons momentos, e tendo a satisfação de tornar público, histórias que eu conheço, ideais que eu persigo e fábulas que eu invento. Tenho certeza que será bom para
este velho octogenário sentir o soprar Minuano me esfriando o corpo mas aquecendo meu coração e a mente.

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