Opinião
O caminho do equilíbrio
por Soraia Hanna | Jornalista e sócia-diretora da Critério
por Redação JM
Em meio ao cenário de guerra no Rio Grande do Sul, surge outro embate menor, de tamanho e valor: de visões. Virou tendência se posicionar em um dos lados: ou o Estado, ou a sociedade civil, como se não fossem complementares. O foco tem sido comparar competências, desvalorizar atributos, pôr abaixo o sistema falho e simplificar papéis.
Planejar nunca foi verbo fácil de se conjugar na cultura brasileira, que com tantas mazelas, vive correndo atrás da crise do dia. É da nossa natureza pensar que dá para deixar para depois. A iniciativa articulada e integrada demora para chegar ao topo com entregas concretas. A estrutura burocrática emperra avanços e anda na contramão da agilidade indispensável nos processos do cotidiano.
A despeito disso, por incrível que pareça, o que vemos nesta catástrofe é um esforço enorme dos representantes do Estado. Mesmo com as fragilidades estruturais, há reação, articulação e espírito público. Isso é visto na maioria dos semblantes e palavras de governantes de todas as esferas envolvidas. Forças Armadas, Defesas Civis, bombeiros, policiais, prefeituras, poderes, universidades públicas e seus institutos — todos são o Estado. E aqui uma empatia especial aos prefeitos que estão na linha de frente, buscando soluções para problemas de décadas, que neste momento recaem todos na sua liderança.
Claro que criticar e apontar condutas inadequadas não deve ficar de lado. O desafio está em discernir entre a crítica construtiva e a desconstrução reputacional, a falta de empatia de julgadores de plantão, simplistas e que modulam o tom de acordo com o clamor da audiência. Numa tragédia dessa magnitude, precisamos arregimentar forças para um propósito comum.
Carecemos ainda de uma cultura filantrópica mais desenvolvida. Mas mesmo movidos pelo coração, os voluntários fazem a diferença. Os filantropos também surgem, usando sua influência e seriedade para arrebanhar pessoas e empresas para contribuir e dar exemplo. Vemos companhias de todos os cantos garantindo a perenidade das suas marcas num compromisso global, de valores tão caros como proximidade, responsabilidade social e ambiental.
Avançamos quando criamos espaço para aprimorar o equilíbrio. Até porque a próxima etapa — a da reconstrução — será ainda mais desafiadora. A retomada necessitará de muito dinheiro e cérebros inovadores num ambiente institucional de confiança, aprendizado e segurança jurídica. É fundamental que Estado e sociedade civil somem e façam a diferença, com seus diferentes atributos na vida das pessoas.