JM: 30 ANOS
'O papel de um jornal do interior é ser a voz da sua comunidade', frisa Glauber Pereira
Jornalista, que coordena curso de Jornalismo da Urcamp, foi editor-chefe do JM por 12 anos
por Redação JM
Ao celebrar seus 30 anos de existência, o Jornal Minuano, um dos mais tradicionais veículos de comunicação da Metade Sul, relembra sua jornada marcada por compromisso editorial e inovação jornalística. Em uma entrevista exclusiva, Glauber Pereira, ex-editor e atual coordenador do curso de Jornalismo da Urcamp, compartilhou um pouco de sua experiência e os desafios enfrentados durante o período em que atuou do JM.
O início da trajetória de Glauber no Jornal Minuano remonta ao ano de 2000, quando foi convidado para assumir a editoria geral do periódico. "Eu comecei a dar aulas na Urcamp em Caçapava do Sul, em 1998. Comecei nas teorias antropológicas, era o curso de fundamentos da comunicação também. Era o curso de Letras e também Ciências Sociais que, estava iniciando. Em seguida, fui chamado para as aulas aqui com a questão do mestrado, então qualificava o curso e eu vinha dar aulas em Bagé. Era 99, eu vinha de Caçapava e dava as aulas e voltava. Em 2000, eu dei umas aulas de Planejamento Gráfico e Visual. E, em função disso, o reitor da época, o professor Morvan, teve contato e me convidou. Ele me informou assim: você já está morando em Bagé? E eu disse não. Então, a partir de agora, você vem morar em Bagé de novo", recorda.
Com uma visão clara de regionalização e ampliação da abrangência do jornal, Pereira assumiu a missão de diversificar os temas cobertos pelo veículo, mantendo sua importância e relevância na comunidade local. "O Minuano já era um jornal consolidado, importante. Então, o compromisso era muito grande, manter essa importância e, dentro do possível, ampliar. Não só a sua importância, mas também a sua abrangência, a sua circulação", recorda ao destacar a implementação das edições impressas de segunda-feira, até então algo inédito. "Primeiro, nós fizemos uma edição de eleições. Um especial que circulou em uma segunda. Bom, depois disso, o leitor não aguentou mais esperar até a terça-feira para ver o jornal. Nós analisamos um modelo, um método mais enxuto, bem econômico, mas que respondia a essa demanda pela leitura", recorda.
Durante sua gestão, que se estendeu até 2012 - entre 2016 e 2018 retornaria como Diretor Executivo -, Pereira, atualmente com 55 anos, destacou a importância das reuniões de pautas como fundamentais para manter o jornalismo de qualidade e a relevância dos temas abordados. Ele ressaltou a responsabilidade editorial do Jornal Minuano, sempre buscando cobrir assuntos relevantes sem ceder ao sensacionalismo, mantendo, desse modo, a confiança da comunidade. "A gente sempre foi muito consciente do papel de um jornal do interior, porque é a voz da sua comunidade. As pessoas têm que acreditar nesse jornal, porque, de qualquer maneira, no outro dia, nós vamos nos relacionar com essas fontes", frisa.
Um dos marcos dessa jornada foi a transição do jornal para o meio digital. Glauber recordou o processo de adaptação ao ambiente online, com a criação do primeiro site quando o país ainda iniciava o processo de apropriação de uso da internet. Ele enfatizou a importância de se adaptar às novas tecnologias sem comprometer a qualidade do jornalismo praticado. "Eu costumo dizer que, quando nós chegamos, quando eu cheguei no jornal e, por acompanhar a equipe que estava lá, nós encontramos um momento em que o jornal ainda era feito com papel acetato, tirado em quatro versões, de acordo com as tonalidades de cores, que, sobrepostas e coladas, iam para a gráfica para sair uma página colorida (...) Eu costumo dizer que eu cheguei bem naquela fase da transição radical dos veículos de comunicação impresso para uma outra forma que nem se sabia qual seria. Então, se discutiu o que era jornalismo online. E foi com essas leituras, com essas atualizações que eu levei para o jornal essas novas demandas. Até, de certa maneira, bem adiantado. Foi muito junto com o uso da internet em si. Quando essas tecnologias começaram a influenciar na produção e que a gente tinha que preparar os alunos para essa produção, esse foi um movimento consciente", relembra.
Além disso, Pereira destacou o compromisso do jornal com a comunidade, buscando sempre diversificar as fontes e dar voz a diferentes perspectivas. Ainda enfatizou a importância de se cobrir pautas comunitárias e de se oferecer espaço para que diversas lideranças locais pudessem se expressar. "Todo santo dia a gente ia lá fazer o quadro da edição seguinte, porque a gente tinha bastante consciência que, embora Bagé fosse uma cidade polo, concentrasse interesses de toda a região e tal, não era um grande centro. Talvez não fosse um local onde a gente fosse encontrar os grandes fatos que mobilizasse a opinião pública do Brasil, por exemplo. Não era esse o caso. Nós fazíamos um jornal do interior, mas um jornal do interior consequente e que queria regionalizar. Então, a melhor maneira de fazer isso, do meu ponto de vista, era controlar a pauta. Porque não era todo dia que tinha o grande furo da reportagem, mas era todo dia que a gente tinha que manter uma edição forte", ressalta.
{AD-READ-3}Ao ser questionado sobre os momentos mais marcantes de sua trajetória no Jornal Minuano, destacou a oportunidade de trabalhar com pautas comunitárias. "A gente se reunia de manhã, mas cada repórter tinha um certo compromisso de trazer duas a três pautas dentro do seu setor. Por quê? Porque a editoria, nesse caso, reconhece a experiência do repórter como cidadão. O repórter é um cidadão que vai no mercado, que vai na padaria e ouve coisas, vê o que está acontecendo. E a editoria tem que respeitar esses processos, tem que entender que o repórter pode e deve trazer temas para serem debatidos, uma vez que estejam dentro dos nossos princípios de noticiabilidade", recorda ao evidenciar que, por meio deste mecanismo, diversificaram-se as pautas.
Na atualidade, Pereira mantém proximidade com o JM por meio de projetos desenvolvidos junto ao curso de Jornalismo da Urcamp, já que o veículo de comunicação serve como laboratório para o desenvolvimento de atividades dos acadêmicos, que têm a oportunidade de aplicar as teorias de sala de aula na prática antes de se formarem como jornalistas profissionais.