Opinião
O iceberg da segurança nas escolas
Cáren Castencio | professora, vereadora, presidente da Comissão de Educação, Cultura, Direitos Humanos e Segurança da Câmara
por Redação JM
Circula nas redes uma imagem que me pareceu a melhor forma de entender um pouco a onda de ameaça às escolas que tomou nosso país. É a imagem de um iceberg - na parte visível está o bullying, a desatenção de famílias e a falta de segurança dos prédios escolares; abaixo da superfície está aquilo que a sociedade ignora: a vulnerabilidade dos jovens diante de discursos extremistas, plataformas online sem restrições, disseminação dos discursos de ódio, organização de células neonazistas, aumento do acesso a armas de fogo e a própria espetacularização por parte da mídia.
A metáfora do iceberg mostra a complexidade do tema e, portanto, o simplismo de algumas medidas adotadas. Em Bagé, a Prefeitura anunciou botão do pânico nas escolas. Não é preciso nem atuar em escola para imaginar a ineficiência da ação. Isso nem sequer dá conta do problema da insegurança dos prédios, imagina dos problemas profundos que fazem a escola ser vítima da violência da sociedade. Botão de pânico é medida paliativa, de quem quis dar alguma resposta rápida à sociedade. Mas, se vamos por esse caminho, por que a Prefeitura tirou rondas e alarme das escolas? Por que elas não dispõem de câmera, campainha? Por que o cercamento de algumas escolas não é consertado?
Segurança começa antes. Já existe lei que determina que as escolas devem contar com psicólogos e assistentes sociais, mas em Bagé algumas escolas não têm nem orientador educacional. Como é possível trabalhar na prevenção da violência, no envolvimento da comunidade e na identificação de possíveis casos que precisam de outro nível de intervenção?
Além de medidas efetivas de segurança, é preciso de formação de professores, equipe multidisciplinar completa, recursos materiais, ações que promovam a cultura de paz, o cuidado da saúde mental de estudantes e o enfrentamento ao bullying e ao preconceito. Tudo isso com a participação da comunidade. Menos que isso é blefar com coisa séria.