Cidade
Pesquisa aponta evasão na educação pública de Bagé no pós-pandemia
por Melissa Louçan
Um projeto desenvolvido em parceria entre a Unipampa e a 2ª Promotoria de Justiça Especializada de Bagé elaborou uma radiografia da evasão escolar como sequela da pandemia de Covid-19. O trabalho foi desenvolvido ao longo do ano de 2022 e o resultado foi apresentado no último dia 24, no auditório da Promotoria de Justiça, junto a representantes de escolas da rede pública de Bagé.
O estudo científico “Cartografia dos excluídos da escola: os efeitos da covid no município de Bagé” foi desenvolvido pelos professores do campus Bagé da Unipampa, Anderson Bihain e Amélia Rota Borges de Bastos, como parte de um projeto institucional, de âmbito local, realizado pela promotora de Justiça, Marlise Martino Oliveira.
O trabalho buscou mapear estudantes do município de Bagé, em idade escolar obrigatória que, após a pandemia, não retornaram aos estudos. O estudo compõe o projeto do MP intitulado 'Busca Ativa e recuperação de Aprendizagem', que tem como objetivo o planejamento de ações com vistas à reintegração dos estudantes ao ambiente escolar, bem como a recuperação das lacunas educacionais geradas no período pandêmico.
O levantamento de dados foi realizado nas 75 escolas públicas do município de Bagé. Destas, 69 escolas responderam ao questionário. Existem 15.327 alunos matriculados na rede pública de Bagé: 5.968 em escolas estaduais e 9.359 em escolas municipais.
Deste total, 56% das escolas não registraram abandono, 36% registraram evasão, enquanto 8% das escolas consultadas não responderam a pesquisa. Das escolas que responderam, 17 são estaduais, sendo que. destas, sete indicaram abandono, ou seja, 41% de evasão escolar. Já das 52 escolas municipais, 17 escolas de Ensino Fundamental (EMEF’s) registraram evasão, enquanto as 19 EMEF’s responderam parcialmente e não indicaram abandono.
{AD-READ-3}Os resultados obtidos através da análise de dados indicam algumas ações possíveis, a serem avaliadas pelo Ministério Público e secretarias municipal e estadual de Educação, como a necessidade de sistemas interligados de comunicação sobre informações educacionais das diferentes redes do município, incluindo todas as escolas de Bagé no relatório; ações de resgate dos estudantes em situação de abandono, antes do período de matrícula, de forma a garantir a realização de matrícula para 2023. Também foi apontada a necessidade de ações de conscientização e responsabilização dos pais em virtude da ocorrência de crime de abandono intelectual, além de planejamento de ações com vistas a recuperação da aprendizagem de alunos em situação de abandono.
Todo o processo de análise foi realizado através de uma plataforma própria, criada pelos pesquisadores para o projeto, que possibilita a coleta de dados sobre a infrequência e a evasão escolar com o acesso instantâneo e interligado pelos atores da rede educacional. Inclusive, a ferramenta ficará disponível para que as escolas sigam atualizando os dados. “É uma importante ferramenta de gestão para a escola. Pode-se perceber que alguns anos escolares têm um maior número de abandonos - e organizar esforços e políticas públicas de prevenção, com um olhar mais específico para os riscos identificados”, aponta Amélia Bastos.