Eleições 2022
“Estou tentando fazer uma candidatura de convergência, não de polarização”, afirma Bogo
por Redação JM
Candidato ao governo do Estado, pelo PSB, Vicente Bogo é professor, exerceu o cargo de vice-governador, entre 1995 e 1999 (com o governador Antônio Britto), e defende uma visão de gestão com foco direcionado para o investimento na educação e em um modelo de desenvolvimento socieconômico. “Entendo que, como sociedade, temos um trabalho muito grande, que é o de preparar um projeto para futuro do Rio Grande do Sul”, justifica.
Bogo cumpriu agenda, na região, durante o final de semana. Antes de acompanhar, em Bagé, atos das campanhas de Ricardo Cougo (candidato a deputado estadual) e de Beatriz Souza (candidata a deputada federal), o postulante ao Palácio Piratini esteve em Santana da Livramento. O roteiro pela fronteira e Campanha abriu o circuito de viagens pelo interior do Estado, planejado para incluir as maiores cidades do Rio Grande do Sul.
Diálogo é palavra-chave para Bogo, um conceito que transporta para o cenário do setor que considera prioritário. “Estou tentando fazer uma candidatura de convergência, não de polarização. É da minha natureza, o diálogo, a conversa, ouvir e estimular a organização popular. Sigo uma ideia que o Beto (Albuquerque) vinha trabalhando, que é a da educação, mas acrescentada pelo desenvolvimento”, pontua.
Para o candidato do PSB, a ‘situação crítica da educação’, atestada pelos indicadores, ‘não ajuda a atrair empresas, criar negócios, unificar o padrão de trabalho ou desenvolver novas tecnologias’. “Por isso, também, o jovem está abandonando a escola. Somos um dos estados com maior evasão escolar no Ensino Médio. A escola deixou de ser atrativa. Precisamos fazer um grande esforço de qualificação, para alcançar uma formação adequada”, avalia.
A ampliação da oferta de vagas em escolas de tempo integral está na agenda de Bogo para reverter o cenário. “Temos 2% dos jovens em turno integral. A média do brasil é de 5,7%. Puxamos para baixo a média brasileira. Muitos terminam o Ensino Médio e não sabem escrever um texto. Precisamos tornar a escola mais aprazível, preparada para que o aluno possa fazer atividades esportivas, ocupacionais, de integração, e alguma coisa de formação em ciências, ter laboratórios de ciências e informática, mecatrônica”, enumera.
Bogo defende o que caracteriza como escola aberta. “O tema da escola cívico-militar entrou na discussão da educação pelo viés da disciplina. Começou a se achar que a escola ia mal porque não tinha disciplina. Então se pensou em um modelo cívico-militar. Mas não é exatamente assim que funciona. A moderna pedagogia não funciona assim. Não é que isso retira o valor de que algumas escolas possam ter a característica de disciplina. Ocorre que a discussão entrou pelo viés de uma reação a um sistema, mas criou uma contradição e agora estamos num impasse”, resume.
A escola aberta, na visão de Bogo, ‘ajuda a criança a ser um cidadão, a fazer compreender o papel que tem na sociedade, e ajuda a desenvolver suas capacidades em termos criativos e produtivos’. “A educação, na escola, consiste em ajudar crianças a desenvolver aquele potencial que elas têm. Não é ensinar a ser de um partido, muito menos dizer o que tem que ser na vida, porque isso elas vão descobrir sozinhas. O primeiro ponto que quero tratar é atualizar as diretrizes político-pedagógicas da educação estadual, para deixar claro que a criança não é um objeto”, reforça.
Candidatura pedagógica
Para o candidato do PSB, o processo eleitoral representa uma oportunidade para construir novas consciências políticas, mas que pode ser desperdiçada pelo radicalismo. “Minha candidatura também tem uma função político-pedagógica. Se a gente faz uma campanha para aumentar o conflito ou para aumentar a burrice, não faz sentido. Tem que fazer o processo político-pedagógico para a sociedade em meio à discussão sobre soluções para os problemas do Estado, dos municípios. A política tem que fazer isso”, reflete.
Bogo afirma que o PSB ‘tem uma riqueza de projeto’, por colocar ‘o humanismo o desenvolvimento das pessoas, em primeiro lugar’. “Campanha tinha que ser um momento de cidadania, de formação política, não de agressividade. Se gasta muito dinheiro, com fundo eleitoral, por exemplo, para que todos continuem ignorantes? Penso que não deveria. Isso não pode ocorrer. Nossa democracia é complicada, porque quem perde atrapalha e não se constrói muito a partir daí. Precisamos construir condições para dialogar em todas as etapas, e isso envolve quem ganha e quem perde. O poder está no voto e ele precisa ser respeitado”, salienta.
Desenvolvimento socieconômico
Articulação, mobilização e popularização dos Coredes integram a proposta de desenvolvimento socieconômico apresentada por Bogo, no contexto de uma busca por equilíbrio entre as metades Norte e Sul do Estado. “Não é o governo quem deve dizer o que é bom. Tem que reunir, nos municípios, entidades, trabalhadores e instituições, para começar a discutir o que queremos em 20 anos e como vamos resolver os problemas atuais. Precisamos ter uma visão de potencial e problema de cada localidade para definir o que será feito com o dinheiro público. Se não tem critério para administrar, vamos construir apenas privilégios ou perenizar problemas”, relaciona.
A Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) é encarada por Bogo como alternativa para o desenvolvimento tecnológico. Alcançar este estágio, porém, envolve articulação. “É possível combinar com as instituições comunitárias, por exemplo, para preparara professores para o ensino fundamental, e a nossa universidade pode ser a que vai se estruturar para desenvolver novas tecnologias. Para resolver as demandas, precisamos abrir o diálogo. Com um projeto de futuro definido, podemos ter mais claro, também, o que o Estado quer para a educação”, exemplifica o candidato do PSB.
Estado para quem precisa
“O Estado não é dono de ninguém na sociedade. O Estado é o instrumento de gerenciamento do pacto social. Tem que ser o instrumento de ajuda ao desenvolvimento, ao cumprimento do que a sociedade estabelece, o que, no nosso caso, é colocado pela Constituição. As organizações também fazem parte da democracia. Se a educação não vai bem, para citar um exemplo, é, em parte, por que o Estado perdeu a noção de futuro”, define Bogo, que defende uma visão de ‘Estado máximo para quem precisa’.
O candidato destaca não defender o Estado máximo, estabelecendo uma espécie de diferenciação. “Defendo o Estado máximo aos que mais precisam. Isso não quer dizer que uma empresa não precise. Não vou ser contra o agronegócio. Se cumpre a lei, é competitivo e posso ajudá-lo, então será feito. Por que é para o bem de todos. Não há riqueza a distribuir quando ela não é gerada. Como o conceito está associado à ideia de estatização e privatização, então tenho que explicar, porque pode gerar confusão”, pondera.
Bogo defende a tese de um Estado mediador, atuando como uma espécie de gerente, com perfil útil e funcional. “E o que significa ser útil e funcional? Significa que a ação do governo, primeiro, tem que servir para algo, e, segundo, dar o resultado esperado. Não sou privatista e não sou estatista. Penso que o Estado tem que ser eficiente e eficaz naquilo que precisa fazer, e que faça bem a um custo compatível”, salienta.
Banrisul público
Bogo era vice-governador quando o Estado privatizou a CRT. Ele explica que a Companhia não tinha recursos para implantar o sistema de telefonia celular, poderia perder valor de mercado e se tornar inviável. “Não havia escolha. A privatização foi feita porque precisou trazer alguém que pudesse fazer o investimento necessário colocando dinheiro do seu bolso”, garante, ao qualificar a situação do Banrisul como diferente.
O postulante do PSB observa que outros candidatos defendem a privatização do Banrisul, mas também apontam que alguns estão reavaliando a posição por uma questão lógica. “O Banrisul passou a perder valor, de um tempo pra cá. Qual é o empresário que vende ações quando estão em baixa? É um bom negócio? Não é nem uma questão de ser a favor ou contra privatizar. Simplesmente não é razoável. E é importante dizer que começou a perder valor porque o governo não tem projeto. O banco começou a concorrer com bancos mercantis e esqueceu dos clientes tradicionais”, critica.
Para Bogo, o lucro registrado pelo Banrisul no último ano, se repetido pelos próximos cinco anos, pode pagar seu próprio valor de mercado. “Então vão entregar de graça, para quem comprar pagar com o próprio lucro? Não é lógico fazer isso. Não vou privatizar o Banrisul. Vou redirecioná-lo para apoiar o nosso programa de desenvolvimento do Rio grande do Sul”, projeta.
Situação econômica
“O Estado está pior do que já estava. Não tem jogo virado. Tem uma situação temporária, muito decorrente da inflação”, avalia Bogo. A radiografia das finanças gaúchas integra a pauta do candidato do PSB. O postulante afirma, inclusive, que as condições têm surpreendido o eleitorado. “Quem assumir o governo no ano que vem não vai ter o céu azul”, reitera.
De acordo com o candidato, o superavit comemorado pelo governo está alicerçado em uma conjuntura muito específica, que envolve diferentes fatores, como o congelamento de gastos, que segurou a despesa e aumentou a receita, e a suspensão temporária do pagamento da dívida com a União.
O cenário, conforme Bogo, deve mudar completamente no próximo ano. “O dito equilíbrio fiscal não está baseado no desenvolvimento econômico, no crescimento da economia do Rio Grande do Sul. Está baseado na miséria do pobre, porque a inflação está tirando dinheiro justamente da população pobre”, lamenta.
Futuro da CRM
Para a Companhia Riograndense de Mineração (CRM), que tem mina de carvão em Candiota, Bogo projeta a aplicação da lógica de eficiência e funcionalidade. “Não adianta ter uma empresa se ela não for funcional. Se não está desempenhado o papel adequado, não está dando resposta. Não estou fazendo juízo de valor da CRM de hoje. Estou falando no sentido de pensar uma estratégia, retomar e trabalhar com responsabilidade o tema do carvão”, pontua.
{AD-READ-3}O candidato do PSB entende que o setor pode ser compreendido a partir de uma perspectiva sustentável. “Se tivermos uma solução tecnológica para fazer a exploração do carvão, neste sentido, temos que fazer. Porque não podemos ter um polo carboquímico? Temos que trabalhar muito esse tema. Podemos ter, aqui, um arranjo produtivo importante, com agregação de valor, em escala, e organizando regionalmente,”, reconhece.
O investimento em pesquisa também é considerado para a criação de um polo industrial voltado à saúde, com foco na produção de medicamentos e próteses. “Investir em conhecimento e na capacidade operativa do trabalhador é o que ajuda a atrair investimentos. Pensamos em um planejamento estratégico para organizar orçamento, fazer parcerias, e deixar de gastar onde não precisa. É um trabalho de uma ou duas décadas, então temos que ser rápidos nisso”, prioriza.