Editorial
Uma história de luz e sombra
Gladimir Aguzzi | Acadêmico do Curso de História Urcamp EaD
por Redação JM
Desde a primeira vez que ouvi a expressão "idade das trevas" senti uma espécie de estranhamento, algo como ouvir uma pessoa sendo ofendida. Com o passar dos anos, leituras e vivências literárias deram-me a certeza de que "quem denominou trevas" pressupôs a cultura greco-romana valorizando a arte e a filosofia e o Renascimento enaltecido pelas artes e novas ideias.
No meio desses dois tempos, separados por mil anos, a idade média, a idade das trevas, tempos de invasões, tempos da imposição da fé, tempos em que "os donos da história" resolveram definir como a idade em que nada se criou, nada floresceu e tudo "era treva". Pode haver engano nisso tudo dessa análise, mas evidencia-se o destaque para a arte e a filosofia nesses dois tempos, o que não aprendi nos bancos escolares.
O meu conceito de Idade Média na escola perdeu-se muito ao longo dos anos, porque nesses 43 anos de conclusão do Ensino Médio, nunca abandonei as leituras de História, minha biblioteca tem mais livros de história que de ficção ou qualquer outra temática, como teatro, política, jornalismo, publicidade ou manuais de redação, áreas em que atuo. Mesmo assim do aprendizado escolar sobre a idade média ficou a memória da invasão de uma cidade, das batalhas, da igreja austera e ditatorial impondo a fé, da proibição de tudo aquilo que não fosse devoção à Igreja. E nada de evolução, de descobertas inovadoras, de arte, de ciência. Além da escola posso apontar o "dedo acusador" por essa percepção aos inúmeros filmes que assisti. No entanto, descobri não ser verdade o que tinha como conceito estabelecido.
Na Idade Média surgiu o livro, as escolas espalharam-se pelo mundo conhecido e criou-se a universidade; na idade média, Justino deu corpo ao Direito como o conhecemos hoje; as técnicas náuticas, astronômicas e de viagens terrestres são resultados dos estudos realizados no período medieval. Franco Junior (2006) listou algumas invenções revolucionárias, objetos grandiosos e simples que mudariam a trajetória da civilização: moinho de vento, tear com pedal, a calça comprida, ferradura, colher, álcool, chaminé, camisa com botão, óculos, roda dentada, carrinho de mão, ferro fundido, luneta, serra hidráulica, macaco-elevador, roda de fiar, espelho de vidro, fole hidráulico, relógio mecânico, a imprensa de tipos metálicos móveis, entre tantos e tantos. No entanto, esses poucos instrumentos fizeram a diferença em todas as áreas.
Em aula é necessário a História com o entusiasmo e o cultivo da curiosidade que a história merece, que o ser humano necessita como reconhecimento por percorrer um caminho tão longo e chegar aos dias de hoje. Porque – e isso pode ser coisa de quem está começando um processo - acredito que ensinar História sem o lúdico, sem a representação, sem a arte, sem a construção criativa de histórias em torno de temas, não fará com que a paixão aconteça.