Candiota e Hulha Negra - 30 anos
Bloco Coisinha do Pai e a tradição do carnaval de rua em Hulha Negra
por Yuri Cougo Dias
Desde 1971, a folia toma conta da avenida Presidente Vargas, quando chega ao Carnaval. Numa paixão e entretenimento que são transmitidos entre gerações, o bloco Coisinha do Pai fez com que o município de Hulha Negra se tornasse tradicional quando se trata de botar o povo na rua e sair ao ritmo de samba-enredo, convidados a todos para desfilarem na avenida. Dentro das comemorações de 30 anos de emancipação, não há como destacar o Coisinha do Pai como um patrimônio imaterial do cidadão hulhanegrense.
O surgimento
Um dos idealizador e atuais responsáveis pelo bloco, o vice-prefeito Igor Canto é um entusiasta do carnaval. Mesmo tendo morado 32 anos fora de Hulha Negra, desses, em 30 deles veio à cidade para cair na folia e honrar uma tradição que iniciou em 1971, sob a responsabilidade de João Djalma Nunes, o Micuim. Porém, na época, surgiu com o nome de “Paga que eu bebo”. Já a nomenclatura atual veio em 1979. “Pegávamos couro de cabrito e fazíamos os instrumentos (surdos, baquetas) e cortávamos no mato. Isso se perpetuou por muitos anos. Recentemente que passams a comprar instrumentos novos. Levo sempre o Djalma e o coloco na avenida. Se torna uma atração para a gurizada”, salienta.
Em 1979, Canto relembra que muitas pessoas foram embora de Hulha Negra, em razão da falta de emprego. Quando chegava o Carnaval, o silêncio da noite se rompia em Hulha Negra. “Quando tocava um tambor, todo mundo saía para a rua e o pessoal ia dando bebida pra todo mundo”, explicando o motivo para o primeiro nome do bloco. Até que, inspirados numa composição de Jorge Aragão, eternizada por Beth Carvalho, surgiu o nome Coisinha do Pai. “Na época, eu não sabia muitas músicas e letra. O pessoal pedia ‘O coisinha tão bonitinha do pai”. E aí ficou o nome”, relata.
O desfile se tornou tradicional até que, em meados dos anos 1990, começaram a surgir os próprios sambas-enredos do Coisinha do Pai. A ideia, segundo Canto, partiu de Roberto Costa, que era um ferroviário e autor do hino de Hulha Negra, junto de Jairo Alves, jogador de futebol. “O Roberto acabou indo embora para Pelotas, o Jairo para o Bagé e eu assumi. Teve um ano que não se fez samba-enredo que o próprio Djalma foi para casa e fez um. Passei 32 anos fora de Hulha Negra e, desses, em 30 eu vim para o Carnaval de Hulha Negra. Cantava eu e o Jefferson Alves, que também foi jogador de futebol. Com o tempo, foi aumentando e, hoje conta com quatro vocalistas, que tem o trabalho de cantar, na avenida, por 800 metros de ida e 800 metros de volta”, enfatiza.
Sonho de um carnaval regional
Recentemente, a Câmara de Vereadores realizou uma sessão em homenagem a Djalma Nunes, sob a proponência do vereador Diego Rodrigues. De improviso, Canto pegou um cavaquinho e fez o Legislativo cair num samba-enredo. Entusiasmado com o gesto, foi alimentada a esperança de que, após a pandemia, os foliões desçam novamente.
Inclusive, Canto tem uma ideia: unir os municípios que pertencem ao Cideja e promover um carnaval integrado, como uma grande festa que marque a tradição de Hulha Negra pela folia.