Cidade
Do racismo na Internet ao contraponto do preconceito
por Redação JM
Por Bianca Vaz e Richar Borges
Acadêmicos de Jornalismo da Urcamp
O racismo é considerado um crime inafiançável e que não prescreve. No Brasil, ele gera desigualdade e a exclusão é o fator mais determinante sobre a ocupação da juventude negra nos espaços. A chance de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é 2,6 vezes superior àquela de uma pessoa não negra. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes negros no Brasil em 2019 foi de 29,2. Os dados fazem parte do Atlas da Violência 2021.
Nas redes, o racismo se destaca por um discurso carregado de ódio. Entretanto, a mesma rede que dá espaço para o preconceito também abre caminhos para a resistência e o protagonismo do negro na web.
Lilian Chaves conta que foi alvo de racismo nas redes sociais logo após ter publicado algumas fotos no seu perfil pessoal. A Visual Merchandising de Bagé, de 27 anos, sofreu inúmeros ataques nos comentários das imagens postadas em que ela aparecia. Entretanto, os insultos foram além, agredindo até mesmo seu filho. “Eu fui vítima de injúria racial, meu filho e também minha família. Uma pessoa que usou a internet para descontar todo seu preconceito. Assim que percebi os xingamentos, logo pensei: agora é comigo. Mas, infelizmente, vivemos num país racista e as pessoas são educadas para agir dessa forma”, diz Lilian.
Para ela, esses ataques são frequentes porque as pessoas se sentem seguras em falar através de um computador e destaca que “não existe ainda um mecanismo capaz de identificar quem são essas pessoas”. Assim que recebeu as mensagens, ela afirma que se sentiu constrangida, lesada e até mesmo sozinha. "Recebi ajuda de muitos amigos e apoio moral de muitas outras pessoas que eu não conhecia. Logo se instaurou uma corrente de compartilhamentos e apoios, naquele momento vi que muitas pessoas estavam comigo. A maioria das pessoas de pele preta aqui no Brasil em algum momento sofre, esse comportamento é naturalizado. Mas eu torço e luto para que essa estrutura seja rompida. Meu filho precisa e merece um futuro melhor”, relata.
Por outro lado, a internet se transformou em uma potente ferramenta de empoderamento, tornando-se palco de resistência. Pipocam iniciativas pelo país que visam construir narrativas positivas acerca do tema. Comunicadores negros, hoje, pautam questões fundamentais, sejam sobre economia, educação, política ou até mesmo fazendo postagens e trabalhando na internet como influenciadores digitais.
Aqui em Bagé, um grande destaque é o Douglas Ribeiro, exemplo de como o contraponto ao discurso de ódio pode ser construído nas redes. Pelo trabalho que desenvolve na web sobre estilo de vida, o digital influencier de apenas 22 anos tem uma grande quantidade se seguidores. Ele explica que para tomar a decisão foi muito complicado, apesar de sempre ter sido seu sonho ele não se via como influencer: “Eu nunca acreditei ter espaço, eu via muita gente branca ali”. Além disso, os pré-julgamentos foram outra questão, mas Ribeiro não viu limites e logo decidiu seguir a carreira. “Lembro que na hora que postei, fui abraçado. Estava com dois mil seguidores, e hoje, quase um ano depois, estou com sete mil”, pontua.
{AD-READ-3}Ele relembra um momento delicado da vida pessoal. Pois no meio do ano de 2020 teve depressão. “Eu tinha muitos amigos e vários deles se afastaram de mim. Por vergonha e até mesmo achar que não iria dar certo e me deixou muito frustrado”, recorda.
Assim, Ribeiro acredita em influenciar pessoas, principalmente em relação ao processo de ir atrás de seus sonhos. “A parte boa de trabalhar com a internet é a visibilidade. Consigo ter um espaço para falar com meu público. Tento sempre levar e passar algo importante para os meus seguidores. Não deixem que as pessoas falem que vocês não conseguem. A gente pode e consegue sim”, finaliza ele.