Eleições 2020 / Eleições Bagé 2020
Bagé registra primeira candidatura coletiva de sua história
por Viviane Becker
No Rio Grande do Sul acredita-se que pelo menos 14 inscrições foram configuradas como mandatos coletivos. E Bagé teve uma delas. De acordo com um levantamento do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da FGV, a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as candidaturas coletivas e compartilhadas se multiplicaram nos últimos quatro anos. Passaram de 13, em 2016, para 257 registros em 2020.
"Essa é uma maneira diferente de fazer política porque rompe o personalismo, a ideia que uma pessoa só vai representar milhares de votos. Consideramos um jeito mais democrático de fazer política, e, no nosso caso, somos três pessoas, mas viemos de um coletivo. Enquanto uma pessoa faria o mandato formal da câmara, esse trabalho estaria se multiplicando já que mais duas pessoas estariam atuando", explicou a estudante de letras Krisley Vargas, de 22 anos, que uniu forças as ideologias da acadêmica de Jornalismo, Renata Carvalho, de 20 anos, e do prestador de serviços, Alex Sander, de 44 anos, todos militantes do PSOL e envolvidos com diversas causas.
O trio formalizou o registro da primeira candidatura coletiva da história de Bagé. Se eleitos fossem, eles pretendiam dividir o salário e atarefar o trabalho. "A ideia era fazer assembleias de construção do mandato promovendo a participação de outras pessoas, para que as decisões não fossem tomadas de portas fechadas", ressaltaram. Sobre a aceitação em Bagé, eles consideraram boa, já que muitas pessoas reclamaram do trabalho dos vereadores que, depois das eleições, em parte, somem, deixando a desejar.
Entre as bandeiras e pautas levantadas pelo trio, estavam a defesa dos direitos humanos, das mulheres e, principalmente, da educação, do movimento negro, das lutas LGBTs, com um caráter progressista. "Levantamos sem nenhuma vergonha as bandeiras do feminismo, do antirracismo e do anticapitalismo, pois somos de um partido que é de esquerda radical e, pelo menos aqui em Bagé, não fez coligações", declarou Kris.
Novidade no meio político
O termo e a proposta ainda soam como uma novidade e, possivelmente, muitos leitores ainda o desconheçam. Mandatos coletivos são aqueles que, embora tenham um candidato principal, contam com mais pessoas por trás. Nesses casos, o vereador eleito compartilha as decisões do mandato com um grupo de pessoas. Esse novo modelo ainda não é previsto na lei e exige um acordo informal entre os integrantes.
De acordo com dados eleitorais, o PSOL é um dos partidos que mais estimula e lança esse tipo de candidatura, mas o propósito conquistou representantes de partidos alinhados à esquerda, há também partidos de centro e de direita.
{AD-READ-3}Normalmente, essas candidaturas coletivas têm motivações idealistas, o que confirma o posicionamento deste grupo de Bagé. Kris, representando os demais parceiros, reforça que o mandato estaria a serviço de combater as desigualdades. "Pensamos em fazer o mandato coletivo, pois acreditamos nesse jeito diferente de fazer política, sem a ideia de construir uma figura pública sozinha, sem ideia de liderança, mas que seja de maneira democrática, servindo de megafone das lutas das pessoas, das mulheres e dos jovens. Essa é maior característica do mandato, não queríamos fazer uma política tradicional, porque não somos políticos de carreira e nem vamos nos tornaríamos se fossemos eleitos", declaram.
Como o TSE só reconhece um candidato, os grupos precisam sempre definir uma pessoa, que vai ser registrada no Tribunal e, oficialmente, será considerada a candidata. Caso seja vencedora, apesar de ouvir os demais, será a única oficialmente responsável pelo cargo. O nome oficial na urna foi o de Renata Carvalho, que fez ???? votos.