Bagé, capital heroica do Rio Grande
Assim se referiu Clemenciano Barnasque a Bagé em livro publicado em 1928, apresentado ao concurso de “obras didáticas para estudantes”, onde a comissão julgadora, ao contrário, considerou o trabalho como de grande utilidade para o ensino de “efemérides” que, se lidas diariamente em aula pelo professor serviriam como preleção da história do Estado do Rio Grande do Sul.
Para a data de 2 de fevereiro o escritor elegeu a “Rainha da Campanha” como linda cidade fronteiriça, “ restos de um acampamento dos soldados de d. Diogo no século XVIII; e que por meados dessa época as primeiras penetrações espanholas, atraídas talvez pela fertilidade dos seus campos, começaram a povoar o território, ali ensaiando as primeiras fazendas de criação, mais ou menos contemporâneas as de fundação do forte de Santa Tecla”.
Informa ele que Bagé “foi fundada em 18 de maio de 1812 em capela curada, da qual o primeiro pároco foi o padre José Loureiro” e “elevada à categoria de município autônomo em 5 de julho de 1846”, verificando-se sua instalação a 2 de fevereiro de 1847, data em foi organizada a primeira Câmara. “Berço de ilustres filhos, cenário de assinalados feitos das tradições gaúchas, Bagé é a capital heroica do Rio Grande, em cujos escampos desvãos paira ainda, eloquentemente, o espírito da nossa raça, revivido na tradição dos costumes e na graça das filhas das estâncias, dispersas na sua exuberante campanha. Na cinza desses fogões da legenda gaúcha, donde sairam Silveira Martins, com a eloquência do verbo e Manduca Rodrigues com a bravura de sua espada, em diretrizes várias, nas diferentes esferas em que fulgiram, o espírito de nossa gente e a alma de nossa terra, falará sempre Bagé, a capital heroica do povo rio-grandense”, anota o historiador.
Diz ainda Barnasque que o nome “Bagé” encontra origem na “remota tradição do velho cacique Ibagé, que por ali viveu, em fins do século XVII”, suposição que mais tarde seria contrariada por estudos capitaneados por Tarcísio Taborda e outros, assim como feita a correção de algumas datas, como o nascimento da cidade e outras acima referidas.
Em verbete de 17 de dezembro, Barnasque narra a prisão do Coronel João da Silva Tavares, em Arroio Grande, efetuado por Canabarro a 17 de dezembro de 1836, e “que continua ainda um ponto obscuro da revolução farroupilha. Tomada então pelas forças republicanas, como uma completa vitória sobre os imperialistas, esse feito que hoje relembramos não se reveste de tal importância. Segundo refere Rio Branco, no dia acima mencionado, o coronel João da Silva Tavares, apenas em companhia de alguns dos seus oficiais, achava-se em visita ao seu sogro” naquele município quando foi surpreendido por numerosa força ao mando do general David Canabarro. Resistindo aos assaltantes, Tavares, com oito companheiros entrincheirou-se na casa, logo desistindo do intento ante a superioridade numérica do inimigo. Foi feito prisioneiro juntamente com os capitães Serafim Caetano e José Vieira Nunes, ajudante Francisco Feijó e tenentes Genuíno Dutra e Pedro Gangá.
Tavares foi dali conduzido ao Uruguai onde “esteve a ferros por 53 dias, conseguindo ao cabo do tempo” escapar-se voltando a assumir seu comando na luta contra os farrapos. João da Silva Tavares, Barão e Visconde de Serro Alegre, foi derrotado pelo General Antônio Souza Netto, no Seival, onde proclamada a República Rio-Grandense. Teve ele “numerosa e ilustre” descendência, como seu filho Joca Tavares, Barão de Itaqui.
Referência; “ Efemérides Rio-Grandenses”, de Clemenciano Barnasque, Livraria Selbach, Porto Alegre, 1928.