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Bagé e uma dúvida ortográfica

Em 11/03/2025 às 17:33h, por José Carlos Teixeira Giorgis

Não é esdrúxula nem nova a grafia de Bagé com “jota”, escrevia Tarcísio Taborda, pois pelo menos em 1810 assim acontecia em correspondências e outros documentos da época, também na Carta Geográfica Geral e nos carimbos dos Correios, tanto que o Conselho Nacional de Geografia, autoridade bastante sobre as regras dos toponismos, reconhecera a legitimidade da escrita “Bajé”. Qual a origem do nome do município, indagava o historiador-mor. Quem designara e quando começara a usar dita denominação esta região?

A pesquisa era difícil, ante o costume de destruir os papéis velhos, fontes do passado, e os documentos de arquivo muito tardiamente vieram a ser conhecidos, mas as pistas eram suficientes para amparar a denominação, insistia Taborda.

A região fora palmilhada, fins do século XVII e princípios de XVIII, pelos missionários jesuítas que deixaram registros a respeito dos pontos geográficos, como as do Padre Nusdorferr que apenas refere o “Yiazeguá” e “mais allá”, Santa Tecla. A Cartografia do Padre Furlong Cardiff sobre o Rio da Prata, no mesmo tom, anota “Yiazeguá”, “cerro onde os infiéis guenoas”, tinham suas sepulturas, apontando Santa Tecla. Posteriormente, em 1752, quando da demarcação que chegara até o Rio Negro, buscando estabelecer as fronteiras entre direitos de Portugal e Espanha, os demarcadores fizeram relato circunstaciando de suas andanças, ainda sem sinais de “Bajé”. Também nada apontam os mapas e papéis atinentes à Guerra Guaranítica.

Apesar nas numerosas incursões militares de lusitanos e espanhóis, apenas em 27 de março de 1776 aparece a primeira referência a “Bajé”, no diário de Dom Luiz Ramirez, comandante espanhol de Santa Tecla, que alude ter sua tropa feito uma refeição “a ala bajada del Zerro de Balles”. Depois, em 1801, Paulo José da Silva Gama, o futuro Barão de Bagé, se refere ao cerro de “Ibajé”, nome que reaparece em correspondência de Patrício Correa da Câmara. Só a partir de 1910, talvez em vista de regra ortográfica que determinava o emprego de “gê” e não de “jota”, antes de “i”, é que surgiria o Bagé com “jota”. O nome “Bajé”, se for com origem espanhola, é derivado de “Balles”, como até 1827 o gravavam os castelhanos, depois passa a ser aportuguesado para “Bagé”, com “gê”.

À unanimidade, informa Tarcísio, os escritores admitem que o nome tem origem indígena, embora não se tivesse ainda concluído o significado da palavra primitiva. A própria locução “Balles” pode ser corruptela de algum termo indígena, e como os nomes de tal origem, segundo as regras então vigentes, eram escritas com “jota” e não com “gê” (Pajé, por exemplo) melhor seria conservar assim a denominação, “até que se provasse não ser Bajé originário de palavras indígenas”. Finalmente, o saudoso pesquisador questionava o “Brasil com esse” e não o primitivo “ze” apenas para atender normas ortográficas, como exemplo.

Um ano após Tarcísio retorna à discussão, trazendo a favor do “jota”, cartas de Dom Diogo, expedidas do acampamento local; e a Coreografia Brasília, de Aires Cabral, onde aparece, ainda em 1817, “São Sebastião de Bajé”, fato contemporâneo à fundação, portanto grafia historicamente certa.

Em 1955 grafia com “gê” foi fixada pelo I.B.G.E, tornando o uso generalizado de “Bagé”, embora sempre mantida a reação do “pai da historiografia moderna bajeense”.

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Olhem só: escrevi o qualificativo acima com “jota” ...

Fontes: Correio do Sul, edições de 13.11.1958 e 22.10.1959, reproduzidos na obra “Bagé, de ontem e de hoje”, coletânea de textos de Tarcísio Antônio Costa Taborda, organizada pela historiadora Elida Hernandes Garcia. Ediurcamp, 2015, 655p. Neste ano devem-se festejar os dez anos de publicação deste seminal livro.

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