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Colunistas

Guilherme Collares

  • Professor de Medicina Veterinária na Urcamp | Doutor em Parasitologia
  • guilhermecollares@hotmail.com

Nunca mais

Em 12/11/2024 às 13:42h, por Guilherme Collares

“Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,
Com a alma inteira a se espelhar naquelas sílabas fatais.
Murmuro, então, vendo-a serena e sem mover uma só pena,
Enquanto a mágoa me envenena: “Amigos? Sempre vão-se embora.
Como a esperança, ao vir a aurora, ele também há de ir-se embora.”
E disse o Corvo: “Nunca mais.””
E.A.Poe

Com alma em pena, ao escrever, deparo… com a evocação suntuosa do calvário que me traz tua lembrança. Divina e pura, a enunciar saudades, beldade imemorial. Não fomos como a hera e a verdade, mas sim a sombra de um declínio. Vultoso umbral de mármores quebrados, candeia rota de luz, espedaçada… “Lenora” que se foi e a madrugada, a esparzir seus vultos no caminho. Não mais as vestes alvas de alegria, nem mais as cores vis da fantasia, alucinando as noites que se foram. Apenas a sutil melancolia que arranca, do meu sonho, a esperança. A lembrança, dor imaculada, verdade efêmera que já foi saudade, irradiando a cor da nostalgia.

O papel não verte essa tristeza, impossível descrever todo um abismo. Olhar ao abissal, falso escrutínio, incapaz de tal capacidade. Como se pode dizer que uma saudade é mais que um dom que se adquire no caminho?

Tantas sombras vertem das lembranças… em cada canto uma desesperança, prenunciando rotos desalinhos. Tormentos que se evadem na fumaça, entrecortados por um súbito insilente.

– Quem bate à porta, ou à janela? - Ninguém, por certo, em sonho eu vago.

– Será que alguém perdeu-se ao largo de, em madrugada fria, às altas horas, atrapalhar-me o pranto e as reticências? Quem ousa usurpar-me assim essas ausências de ti, os teus contornos, as sombras que não deixas mais aqui?

– Pois bem, que entres! - Escancaro as vias.

– Pode ser que me tragas algum bem! Um espanto ao menos, a afligir-me a paz.

A noite adentra em névoa minha alcova. E sem nenhum recato, a Mariposa negra pousa em meu espelho. A bruxa, acomodada em meu reflexo distorcido. A alcova treme e bruxuleia nesse espelho, assim tal qual o fogo da lareira, em meu olhos refletido.

– Quem és, ó vil figura, que aqui vens borrar-me a imagem? Ou traze a mim uma mensagem de outrora querida criatura?

E a Mariposa apenas insinua, tremulando a luz na tosca peça… mostrando minha imagem na figura.

– Então, revela agora, estranho augúrio, o responsável por todo esse infortúnio! Como tal, desliza a escura bruxa, ao bizotê da borda e o retrato, mais nítido que nunca, se denota: meu rosto, única imagem, que a dor da escuridão comporta.

– Eu, como ousas? Ela foi, sem despedir-se, a todo um mundo novo, em descoberta. Eu fiquei, clareira aberta, nessa floresta medonha de incertezas. Nunca mais, já disse o Corvo.

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Mais uma vez, a mariposa voa, e pousa novamente no espelho. Reflete uma vez mais a mesma efígie.

– Então, assim será, pouco me importa. A razão de todos os meus males… minha esfinge. Meu Corvo, Mariposa, me reflete. Não repete “Nunca mais”, apenas mostra. Meu cadáver, minha veste, minha prece.

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