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Colunistas

Diones Franchi

  • Jornalista e Mestre em História

A lenda do Monstro da Panela do Candal

Em 12/11/2024 às 16:31h, por Diones Franchi

Diziam existir, em Bagé, na Panela do Candal, localizado próximo à igreja Catedral de São Sebastião, um monstro com a forma de uma grande cobra, que há muito tempo, vivia tranquilo nos cerros do município.

Nesse local havia um rio de respeito, grande e majestoso. Nesse rio, vivia um monstro que não agredia, nem matava e não tinha dentes e nem garras. Pouco se afastava de perto dos rios, procurando as funduras maiores onde seu corpo coubesse. Ao entrar nas águas estas marulhavam como se estivessem gemendo, esparramando-se pelas margens, sacudindo-se de ondas.

Mesmo não agredindo ninguém, a grande cobra era caçada pelos soldados do tenente-general Dom Diogo de Souza. Por isso a criatura veio morar na Panela do Candal, uma região próxima ao Arroio Bagé. O monstro em forma de cobra gigante cavou um buraco, formando um túnel e dizem que vive até hoje nesse local.

O aldeamento começou a se formar, e o povoado passou a freguesia, multiplicando-se a população. Por isso a poucos metros da Panela do Candal, foi construída uma capelinha de São Sebastião, onde hoje em dia é a catedral da cidade. Crescia para ele o risco, e desapareciam as possibilidades de ainda poder sair, para ter um pouco que fosse de liberdade e sossego.

Em certo dia a criatura surgiu despencando as portas da capelinha, destruindo tudo que enxergava pela frente, confrontando os povoadores da nascente da cidade. Foi nesse momento que o monstro em forma de cobra, foi ferido por uma lança de um jovem soldado, arrancando o seu olho. Perdido e sem alternativa ele fugiu transportando-se pelos ares, jogando-se novamente na Panela do Candal.

A partir disso, a grande cobra se afugentou no buraco na Panela do Candal, colocando apenas a cabeça de fora da água para respirar. Sentindo-se ameaçado, o monstro feio, caolho e pacífico, continuou escavando e aumentando o túnel, pois precisava espichar-se, descansar e locomover-se. Até que um dia, cansado de ser caçado e de ficar preso embaixo da terra revoltou-se, atacando uma carroça com dois cavalos e o rapaz que a guiava, fazendo-os desaparecer nas águas, esmagando-os e arrastando-os para o subterrâneo.

Segundo a lenda, muitas pessoas que passavam pelo local, sumiram, entre elas, uma lavadeira, uma criança de um circo, dois militares, um pescador, tropeiros, infinidade de novilhos e cavalos de raça, bois mansos, vacas e terneiros, tantas e tantas vidas foram ceifadas. Além de antigas embarcações, carretas e carroças que nunca mais foram vistas, sumiram sem rastro deixar, sem que nem os cadáveres e nem os veículos jamais fossem encontrados.

Muitos dizem que até hoje, o monstro da Panela do Candal vive em um túnel abaixo da Catedral de São Sebastião. Ele simplesmente percebeu que se fosse apenas pacífico e brando, não teria sobrevivido, diante da vida que lhe ensinou a lutar.

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Baseado na obra de Pedro Waine.

Referências:
WAINE, Pedro. Lagoa da Música – Coletânea de contos, 1955

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