Consumismo
Você não precisa ser um progressista para se preocupar com o consumismo. Você não precisa ser um efervescente defensor do progressismo para compreender que o capitalismo não é perfeito. Você não precisa buscar sinalizar virtudes que não possui para demonstrar que o dinheiro transformado em divindade não passa de um demônio travestido de números.
A verdade é que basta ter uma noção básica acerca dos malefícios que os excessos causam em um ser humano para saber que o consumo tem de ter limites. Em outras palavras, conhecer a ideia de moderação presente na ética de Aristóteles ajudaria a compreender quais necessidades a natureza humana deve ter para a busca de uma vida plena.
Claro que, para um progressista, o simples fato de trazer a ideia de “limites” já desperta aquela ânsia tirânica de “regulamentar” arbitrariamente a vida alheia. Portanto, a chave de leitura para fazer uma crítica ao consumismo não pode ser uma ideologia, mas sim uma espécie de arqueologia moral que indique os caminhos intelectuais que um ser humano deve percorrer para que sua vida tenha um significado profundo.
Ora, pense nos excessos de refrigerantes, doces, álcool e comidas gordurosas. Pense também em compras desmensuradas de camisas, calças e sapatos. Isso para não falar daquilo que constitui um erro em si mesmo, mas que em nosso tempo é “consumido” de forma viciante, como a concessão de smartphones para crianças que mal sabem se comunicar ou da glamourização da pornografia para adolescentes e adultos. Alguém consegue classificar um vício como algo bom? Ou um excesso como algo que conduz o ser humano para uma vida que possa transcender a mera existência material?
Nesse sentido, resta nas entrelinhas que uma deterioração da importância dos valores religiosos civilizacionais também contribui para uma indiferença social quanto ao consumismo. Não à toa, muitas pessoas sequer vislumbram os males que os excessos podem produzir.
No fundo, o que seduz uma sociedade consumista a desejar mais e mais é o reino dos prazeres. Nele, indivíduos que antes possuíam o peso de obrigações morais, familiares e sociais abandonam essa vida de deveres e partem para a escravidão dos prazeres. E, em uma era na qual absolutamente tudo tem um preço (inclusive pessoas), basta ter a possibilidade de consumir para buscar prazeres infinitos.
O que essa estupidez coletiva não percebe é que uma vida de prazeres não passa de uma forma de escravidão. Em outras palavras, o consumo exagerado prende o sujeito nas teias daquilo que ele consome e o transforma em uma marionete de um sistema que o impede de ter uma vida plena.
Mas não é necessário ser um herdeiro de Marx para entender o diagnóstico do caos que o capitalismo gerou na mente das pessoas. Nem é preciso ser um militante progressista (não passa de outro tipo de herdeiro de Marx) contra o capitalismo para perceber isso. Até porque, nesses casos, toda crítica contra a escravidão do capital recai em outra escravidão: a ideológica. Afinal, lembre-se que todo progressista sempre está ansioso por uma justificativa que “legitime” suas ideias de controle social.
Criticar o consumismo não depende de uma ideologia. A crítica ao consumismo depende da rejeição dos extremos. E somente aquele que consegue rejeitar os extremos consegue ser livre para buscar o florescimento humano.