Segurança
De volta a Bagé, Cristiano Ritta fala sobre novas tecnologias para investigações
Após concluir mestrado, delegado promete modernização com uso de inteligência artificial e provas digitais
por Rochele Barbosa
O delegado da Polícia Civil Cristiano Ritta retomou suas funções nesta semana, trazendo novidades após um período dedicado à qualificação acadêmica. Ritta concluiu um mestrado em Direito Penal e Ciências Criminais na Universidade de Lisboa, em Portugal. Atualmente, ele volta a ocupar os cargos de titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco/Bagé) e da Delegacia de Polícia Civil de Candiota.
Ritta conta que esteve licenciado por um ano e três meses para se dedicar ao mestrado, com o objetivo de aprofundar sua formação científica. "É fundamental, especialmente para a atividade policial. No Brasil, grande parte da doutrina de Direito Penal é escrita por advogados, juízes e promotores, mas muito pouco por policiais. E quem tem o primeiro contato com o crime somos nós, policiais. Apesar disso, produzimos pouco conhecimento científico. Por isso, é importante que policiais busquem qualificação, façam mestrados, doutorados e publiquem obras jurídicas, contribuindo para uma compreensão mais completa do sistema", destacou.
O delegado explica que sua decisão também foi motivada por sua atuação como professor universitário na Urcamp e em cursos de pós-graduação e preparatórios. "A oportunidade surgiu, e fui fazer o mestrado presencial, com aulas ministradas por professores da Alemanha, Espanha e Portugal. A vivência no modelo europeu é enriquecedora. Meu plano de estudos agora foca em inteligência artificial e provas digitais, áreas que venho estudando e desenvolvendo. Pretendo aplicar essas inovações na investigação criminal. Nossa delegacia já é conhecida por utilizar técnicas modernas, e isso certamente se refletirá no trabalho diário, trazendo resultados interessantes", afirmou.
Ritta acrescentou que, em comparação com o modelo europeu, o Brasil não perde em qualidade na investigação criminal. "Portugal, por exemplo, tem 10 milhões de habitantes e registrou 85 homicídios no ano passado, número menor do que o de Rio Grande, uma cidade de 200 mil habitantes. No Brasil, lidamos com um volume muito maior de crimes, o que nos dá mais prática e experiência. Isso nos leva a um nível elevado de qualificação, e, cientificamente, não ficamos atrás de outros países", avaliou.
Enfrentamento ao aumento de homicídios
Sobre o aumento de homicídios em Bagé, o delegado apontou que enfrentamos uma "endemia social". "Enquanto o Judiciário e a sociedade não adotarem uma postura mais firme, ficaremos apenas enxugando gelo. Ou encaramos o problema como uma questão de Estado, ou continuaremos vivendo uma espécie de guerra civil. O homicídio é apenas um aspecto, mas o tráfico de drogas e o crime organizado são questões centrais. Sem uma abordagem estrutural, não há solução. Prendemos pessoas ligadas a veículos roubados e ao tráfico, mas, muitas vezes, elas são liberadas rapidamente, perpetuando o problema", alertou.
{AD-READ-3}Ele também comentou sobre o impacto do crime organizado nos jovens em situação de vulnerabilidade social. "Esse é um problema estrutural do Estado, que não investe o suficiente. Em Bagé, há poucas lideranças criminosas, e, quando transferimos presos para presídios federais, as organizações ficam desestruturadas. Contudo, ao retornar, essas lideranças buscam retomar sua posição de poder, o que inevitavelmente afeta as ruas", explicou.
Ritta encerrou enfatizando que a solução para muitos desses problemas ultrapassa a esfera policial. "Não é apenas uma questão de polícia, mas de Estado. É necessário investir em estratégias que desarticulem o crime organizado de forma estrutural e sustentável", concluiu.