Segurança
Acusado de matar Ana Carolina Kamphorst é denunciado por feminicídio e irá a júri popular
Vítima foi morta em 12 de agosto de 2023, em seu apartamento, localizado na rua João Telles
Foi deferida, na semana passada, a sentença de pronúncia do réu de 37 anos acusado de matar Ana Carolina Kamphorst, ainda sem data definida para o julgamento. Ele foi denunciado por feminicídio, vilipêndio a cadáver (desrespeito ao corpo após a morte) e por registrar cenas da intimidade sexual sem autorização.
De acordo com o documento assinado pela juíza Naira Melkis Caminha, a denúncia aponta três crimes distintos. O primeiro trata do homicídio, ocorrido em 12 de agosto de 2023, em horário indeterminado entre 3h e 16h28, localizado na rua João Telles. O réu, segundo a denúncia, teria agido com asfixia e dificultado a defesa da vítima, motivado por menosprezo à condição de mulher de Ana Carolina.
Segundo o processo, o réu e a vítima, que se conheciam, utilizaram um aplicativo de transporte para ir de um pub na rua Fabrício Pillar até a Praça da Estação, onde o acusado desembarcou para comprar cocaína. A vítima seguiu para sua residência, mas, posteriormente, encontrou-se novamente com o acusado e retornou ao apartamento dela.
No local, o acusado teria, com violência extrema, apertado o pescoço da vítima até a morte por asfixia direta. A denúncia destaca a brutalidade do ato, caracterizado por sofrimento intenso e desnecessário, conforme apontado em laudo pericial complementar. Além disso, o crime teria sido cometido de forma que dificultou a defesa da vítima, que foi surpreendida em um ambiente restrito, sem possibilidade de reação ou fuga.
O segundo crime pelo qual o réu será julgado trata-se de vilipêndio ao cadáver. Após o homicídio, ele teria se masturbado ao lado do corpo de Ana Carolina, ato considerado um desrespeito à memória da vítima. O terceiro crime envolve o registro de imagens sem consentimento: o acusado teria fotografado o corpo nu da vítima, em posição de bruços, após cometer os primeiros delitos, e posteriormente enviado mensagens ao celular dela para simular preocupação.
Testemunhas
Na audiência judicial, 11 testemunhas e quatro informantes — amigos próximos da vítima ou do réu — foram ouvidos. Duas amigas e a mãe delas, que a encontraram morta em sua casa no domingo, além de frequentadores do pub e motoristas de aplicativo, relataram que o acusado tentava tocar a vítima e beijá-la, comportamento que ela teria rejeitado, demonstrando desconforto com o contato físico. Um segurança disse ter ouvido Ana Carolina afirmar que não queria levá-lo para sua casa.
Policiais civis e o delegado responsável pelo inquérito relataram que o réu, em depoimento inicial, afirmou que ele e a vítima eram amigos, saíram juntos e consumiram bebidas. O réu alegou que Ana Carolina fazia uso de medicações controladas e mencionava problemas pessoais e familiares. Ele declarou ainda que, ao amanhecer, ela estava roncando, razão pela qual decidiu ir embora sem acordá-la. Em depoimentos posteriores, o réu forneceu detalhes específicos sobre a posição do corpo da vítima, afirmando não terem mantido relações sexuais.
Durante as investigações, a polícia descobriu que o réu havia pesquisado temas relacionados à necrofilia, e que havia no celular dele fotos em que mulheres estavam de bruços. Imagens da vítima foram encontradas no mesmo padrão, com ela de bruços e a roupa parcialmente removida, mas quando a polícia chegou ao local, a vítima estava vestida. Testemunhas afirmaram que o réu mencionou que a vítima consentira com as fotos.
Médicos legistas, ao realizarem a necropsia, identificaram hematomas no pescoço, no queixo e sob o couro cabeludo da vítima, sugerindo asfixia por ação externa. Exames adicionais revelaram marcas internas nos pulmões e coração compatíveis com asfixia, e que não seriam causadas por overdose ou uso de medicações.
Interrogatório do réu
Em seu depoimento, o réu afirmou que sempre se dispôs a colaborar com a investigação e negou qualquer intenção de matar a vítima. Relatou sofrer de ansiedade e disse ter sido pressionado durante os depoimentos. Declarou que as fotos e vídeos encontrados no celular eram privados e tirados com consentimento de outras parceiras, mas admitiu que fotografou Ana Carolina, embora acreditasse que ela estivesse viva na ocasião.
{AD-READ-3}Disse que não houve relação sexual entre os dois, que a vítima estaria sob efeito de medicamentos e que ele tentou, em vão, acordá-la antes de sair do apartamento. Ele confirmou, ao depor, que deletou algumas fotos por arrependimento e alegou que os hematomas poderiam ter sido causados por acidentes quando ela foi ao banheiro, mas negou ter segurado o pescoço da vítima, afirmando que algumas das declarações dadas anteriormente foram influenciadas pela pressão que sentiu durante os interrogatórios.
O acusado permanece preso aguardando julgamento.