Cidade
Movimento de incentivo à literatura feminina chega em Bagé através de clube do livro
por Melissa Louçan
Toda obra literária tem muito a dizer ao leitor, não apenas pelas temáticas abordadas em suas páginas, mas também através do contexto em que foi escrita. Pensando nisso - e tomando por base pesquisas que indicam que, apesar de comporem a maior parcela entre os leitores, as autoras femininas ainda são relegadas e ficam muito atrás de escritores masculinos - o movimento Leia Mulheres busca incentivar a leitura da produção literária feminina.
O movimento Leia Mulheres (#readwomen, no original) foi criado, em 2014 pela escritora inglesa Joanna Walsh. O projeto propõe, basicamente, ler um maior número de escritoras. “O mercado editorial ainda é muito restrito e as mulheres não possuem tanta visibilidade, por isso a importância desse projeto”, informa a página do movimento.
E isso pode ser confirmado em números. Levantamento realizado pelo Instituto Pró-Livro, em 2012, indicou que, entre os leitores, 43% são homens e 57% são mulheres. Por outro lado, uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília, em 2018, indicou que nas últimas quatro décadas, 70% das publicações brasileiras foram assinadas por homens.
Em 2015, o movimento criado por Joanna chegou ao Brasil através da ideia de Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques, de tornar a mobilização algo presencial, em livrarias e espaços culturais. Desde a criação, há oito anos, a mobilização já alcançou mais 160 cidades e 300 mediadoras. Agora, o movimento Leia Mulheres chega a Bagé, através da jornalista, escritora e produtora cultural, Giana Guterres.
Ela conta que participou de alguns encontros do movimento quando morava em Curitiba, Paraná, e em formato online, durante a pandemia. O interesse surgiu ao perceber o deficit de autoras em sua própria lista pessoal. “Em 2015, o primeiro ano que comecei a registrar minhas leituras, percebi que tinha lido só um livro escrito por mulher”, recorda.
No mesmo período, começou a buscar mais diversidade entre as obras literárias que consumia, não apenas em questão de gênero, mas também em questões culturais e geográficas. “Percebi que só conhecia livros do Brasil, Estados Unidos e Inglaterra”, comenta.
Com o retorno a Bagé, após vários anos morando no Paraná, resolveu lançar a proposta na Rainha da Fronteira, em formato de uma conversa mais descontraída sobre literatura feita por mulheres. “Não é pra ser acadêmico, é um bate-papo sobre a obra e a escritora escolhida”, destaca.
A obra que deve inaugurar o clube do livro será A Filha Perdida, assinado pelo pseudônimo Elena Ferrante - a autora, italiana, já informou em algumas poucas entrevistas que concedeu, que optou por não assinar com o próprio nome para escrever com maior liberdade. A obra escolhida, inclusive, ganhou uma elogiada adaptação para a Netflix, estrelada por Olivia Colman e Dakota Johnson.
Para quem quiser participar, não é necessário inscrição prévia, basta participar do encontro que acontecerá no dia 17 de setembro, às 15h, na LEB. Além disso, o movimento conta com página no Instagram - @leiamulheresbage, onde serão postadas novas informações sobre as leituras em andamento no clube.