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Uma bajeense no topo do mundo

Em 21/05/2022 às 10:42h
Melissa Louçan

por Melissa Louçan

Uma bajeense no topo do mundo | Cidade | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler
Foto: Arquivo Pessoal

“Havia muitas e ótimas razões para não ir, mas tentar escalar o Everest é um ato intrinsecamente irracional - um triunfo do desejo sobre a sensatez”. Assim o jornalista Jon Krakauer iniciou seu relato “No ar rarefeito” sobre a expedição ao Everest que terminou em uma das maiores tragédias do alpinismo, em 1996. 

Vinte e seis anos depois, seguindo a mesma rota nepalesa de Krakauer, uma bajeense finalizou a aventura, mas de forma muito mais feliz e vitoriosa. Ludmila Ianzer Jardim Lucas, 35 anos, partiu junto ao marido, o economista Gabriel Franz Bassanesi, 40 anos, no início de abril, para o Himalaia, onde enfrentou todo o rigor do frio extremo, altitude e seus efeitos acachapantes sobre o corpo durante 40 dias - entre aproximação, aclimatação à altitude e a escalada em si  . E a conquista veio na forma dos 8.848 metros vencidos, quando chegaram ao “topo do mundo”.

Quatro dias após se tornar a primeira gaúcha e sétima mulher brasileira a completar o feito - além de, junto a Bassanesi, se tornar o primeiro casal brasileiro a chegar ao cume da maior montanha do mundo - Ludmila conversou com a reportagem direto de Kathmandu, e contou ainda não ter assimilado a conquista. “Fazem quatro dias e ainda me pego chorando pelos cantinhos sem entender direito o que tô sentindo, talvez tentando absorver tudo o que vi. Ainda não sei traduzir em palavras, mas foi maravilhoso e vai virar poesia”, disse.

Como começou a te aventurar nesse mundo de alpinismo/montanhismo?Em quais locais já esteve?

Começamos em 2016, quando fomos de férias para o Japão e decidimos subir a maior montanha do país, o Monte Fuji (3.776m). Desde então nunca mais paramos! Fizemos curso de escalada em rocha e passávamos quase todos os finais de semana na Pedra do Baú, entre São Paulo e Minas Gerais. No Brasil fizemos as travessias da Serra Fina, Marins - Itaguaré e Petrópolis- Teresópolis, Monte Roraima e Pico da Neblina. Mundo afora, subimos o Kilimanjaro na Tanzânia, Aconcágua na Argentina, Mera Peak no Nepal, Mont Blanc e mais outras tantas montanhas nos Alpes e muitas montanhas menores e desconhecidas pela África e Europa. Fora os fracassos, como quando tentamos o monte Elbrus, na Rússia, e pegamos uma tempestade de raios, tendo que deitar na neve para esperar passar e depois descer.

E como foi o preparo para essa aventura? Além do preparo físico, teve um preparo psicológico também?

No começo de 2020 largamos tudo para ir viajar o mundo. Com a pandemia, ficamos presos nas Ilhas Maurício, impossibilitados de viajar. Desde então, nossa única atividade foi treinar. Na ilha africana subimos todos os picos, treinando altimetria. Em seguida conseguimos chegar na Itália, onde fizemos curso de escalada em gelo, de travessia de glaciar e ganhamos quilometragem subindo montanhas nos Alpes. Depois, fomos para o Aconcágua testar nossa adaptação à altitude. Quando percebemos já estávamos preparados para esse sonho distante que era subir o monte Everest! Foi quando decidimos embarcar nessa aventura. O preparo psicológico veio junto com o tempo, mas no início do ano também fizemos um treinamento de gerência de stress na montanha.

“É quase como se houvesse um cordão de isolamento em volta da parte superior desses grandes picos, além do qual homem nenhum tem permissão de entrar. [...] Havíamos esquecido que a montanha ainda detém o grande trunfo e que só nos permitirá a vitória quando bem lhe aprouver”. Eric Shipton, em relato sobre a expedição de 1938, citado por Krakauer em No ar rarefeito (1996).

Além das adversidades do clima, os alpinistas também enfrentam outro desafio nas encostas da maior montanha do mundo: a própria mente. Manter a calma e o foco com o ar rarefeito da troposfera e os efeitos da hipoxia pode se tornar caso de vida ou morte. Encontrar dezenas de cadáveres pelo trajeto, inclusive, pode ser um agravante ou um estímulo para a subida, para honrar quem não chegou ao cume.

A Associação Nacional de Guias de Montanhas do Nepal estima que mais de 200 corpos de alpinistas ainda estão na montanha devido às dificuldades e altos custos para a retirada, que varia de US$ 40 mil a US$ 80 mil

Conforme destaca Ludmila, o treinamento psicológico foi essencial para enfrentar momentos como este: “O medo faz parte do montanhismo e é importante para nos manter em segurança, mas não pode nos bloquear ou drenar nossa energia”.

Situações de risco demandam uma necessidade de calma e controle muito grande. Além disso, também tem a questão dos corpos de outros aventureiros espalhados pelas rotas, o que deve ser chocante. Isto te impactou de alguma forma? 

Eu tinha muito medo de altura no começo. Tinha visão em túnel e via exposição para todos os lados, abismos maiores do que eram, penhascos irreais e muitas ameaças. Aprender a confiar e acreditar em mim mesma foi um processo. Precisei treinar muitas quedas até conseguir olhar pra baixo, encarar o abismo e não tremer.  Sobre os corpos, sabíamos que era uma possibilidade, mas é difícil estar preparado para isso e é realmente muito triste ver alguém que sucumbiu praticando o mesmo esporte que a gente, fico pensando o que pode ter dado errado e como foi a história - choca mesmo. Fica evidente que o montanhismo é um esporte de risco e dá aquele nó na garganta por expor minha família a isso. Porque eu até queria me contentar com o sofá, mas não é disso que minha alma é feita.

Teve algum momento em que tu sentiu medo?

Entre o campo 2 e o campo 3 caiu uma pedra muito próxima da gente. Só ouvimos um pessoal gritando atrás e quando percebemos ela já tava vindo em alta velocidade na nossa direção, caiu bem na minha frente e seguiu descendo. Era uma pedra grande, se tivesse nos acertado a história seria trágica, foi um susto. Mas o resto do tempo me senti sempre segura.

Tem alguma próxima aventura em planejamento?

Temos várias montanhas na lista, mas eu sempre espero uma expedição acabar antes de marcar outra, para me preocupar com uma montanha por vez. Então por enquanto não temos nada planejado. Eu quero subir as 82 montanhas acima de 4000m nos Alpes, que apesar da baixa altitude são picos técnicos e difíceis! Já subi nove delas e quero acumular mais algumas nesse verão europeu, mas fazer todas é um projeto de longo prazo.

 

Coração de mãe de aventureira sofre

Enquanto Ludmila encarava o frio e a altitude no Himalaia, a mãe - a médica bajeense Lucia Helena Ianzer Jardim - aguardava o retorno seguro da filha. Mas mesmo confiando no preparo e autoconhecimento tanto de Ludmila quanto do genro, o coração ficou apertado em alguns trechos.

Após as várias aventuras da filha, a mãe já tem uma rotina: católica e cheia de fé, mantém velas acesas, em oração, durante todo o tempo das expedições. “Dessa vez acho que gastei umas cinco velas de sete dias ”, relatou, em risos.

Antes do início da subida, quando Ludmila e Gabriel ainda estavam no acampamento base em preparo prévio, Lúcia conseguia manter contato diário, em vídeo chamada. Quando a subida teve início, perdeu o contato direto, mas tinha notícias diárias, enviadas pelas equipes de apoio.

Foi apenas no último estágio que o coração começou a apertar mais, quando um dos guias teve de descer com um integrante da expedição e levou o rádio de contato, deixando o resto da equipe sem contato direto com a base. 

O que mais preocupava Lúcia era o momento da descida, realizado de forma mais rápida, porém com maiores riscos. “Tu sobe enxergando onde tá andando, mas tu desce muitas vezes rapelando e não enxerga o que tem para trás. A Ludmila estava com torcicolo, desceu rapelando paredões de gelo, sendo guiada nas direções”, contou. 

A descida transcorreu de forma tranquila e, em seguida, o coração de mão se acalmou com as boas notícias. “O cume não era o objetivo principal, eles queriam fazer a caminhada juntos e se tivessem certeza que teriam a segurança, eles fariam, mas sei que se tivessem que desistir no meio do caminho, desistiriam tranquilamente. Isso sempre me deixou muito tranquila. Mas eles estavam muito bem preparados e eu estou bem feliz porque eles estão felizes”, afirmou.

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