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Bajeense Luís Fernando Flores avalia desafio como auxiliar técnico no Cruzeiro
Depois que a pandemia passar, o bajeense Luís Fernando Rosa Flores terá um grande desafio a enfrentar. Na segunda quinzena de março, foi oficializado como auxiliar técnico de Enderson Moreira no Cruzeiro. E todos sabem que, na Toca da Raposa, o clima é de reconstrução e pressão para que um dos gigantes do futebol brasileira saia da série B do Brasileirão, melhore suas finanças e volte a figurar no rol das conquistas. Com o futebol parado, Enderson e Luís Fernando sequer puderam fazer sua estreia oficial pelo clube mineiro, que está em quinto lugar no estadual (fora da zona de classificação). Entretanto, o trabalho nos bastidores segue pleno.
De forma solícita, Luís Fernando conversou por telefone com a reportagem do jornal MINUANO. Além de repercutir o novo desafio do Cruzeiro, o bajeense também falou sobre o vínculo que possui com Enderson; momentos da carreira, como jogador e auxiliar; referências no futebol e os reflexos da pandemia no mundo da bola.
Toca da Raposa cruza caminho três vezes
O Cruzeiro parece estar atrelado à caminha de Luís Fernando. Primeiro, como jogador, atuou na Toca da Raposa entre 1990 e 1997, conquistando nove títulos, entre eles, a Supercopa da Libertadores. Num segundo ciclo, trabalhou como observador técnico e auxiliar técnico, entre 2005 e 2012. E em 2020, retorna ao clube para ser auxiliar técnico da equipe principal, num momento em que há uma grande cobrança para reviravoltas.
Pode-se dizer que Enderson e Luís Fernando saíram de uma zona de conforto. Isso porque a dupla estava no Ceará, com um invencibilidade de 10 jogos, para assumir um clube sob pressão. Eles ocuparam o lugar deixado por Adílson Batista. “O contexto geral do mundo já é difícil. E claro o do clube também. Sabemos como o Cruzeiro sempre funcionou. É evidente que todo trabalho é desafiante, pois, o clube que está bem nunca muda seu comando técnico. E esse desafio do Cruzeiro, sem dúvida, vai ser um dos maiores. Estávamos muito bem no Ceará, mas resolvemos aceitar, pela história que temos que no Cruzeiro, principalmente o Enderson, que tem conquistas nas categorias de base do clube”, contextualiza.
Como não houve tempo nem para uma apresentação oficial, visto que assim que foram contratados o futebol foi paralisado, Luís Fernando afirma não ter total conhecimento da realidade do dia a dia do Cruzeiro. Contudo, afirma que o contato com a diretoria tem sido mantido com a comissão técnica. “A gente teve uma reunião com diretores por vídeo. Tenho conversando mais com o Enderson mesmo. As coisas estão um pouco lentas, até pela situação da pandemia. Mas estamos tentando resolver algumas coisas e detectar problemas. Porém, estaremos mais a par quando entrarmos, profundamente, no processo, que vai quando vivermos o dia a dia do clube”, argumenta.
Relação com Enderson
Já fazem 15 anos que Luís Fernando trabalha com Enderson. Tudo começou em 2005, quando o bajeense chegou ao Cruzeiro para trabalhar como observador técnico. Casualmente, na mesma época, Enderson também foi contratado para treinar a sub-20 da Raposa. “Em 2006, o Cruzeiro pediu para que eu fosse auxiliar dele na Taça BH. Fomos para a final, perdemos para o Flamengo. Depois, voltei para minha função original até que, em 2007, passei a ser auxiliar em definitivo dele. Fizemos bons trabalhos, tanto que em 2008, fomos campeões brasileiro sub-20. Em 2009, o Enderson saiu e eu permaneci no clube. Em 2010, ele assumiu o Ipatinga, e como havia uma parceria com o Cruzeiro, fui emprestado, à convite dele. Depois, voltei novamente para o Cruzeiro”, relata.
De 2009 até 2011, Enderson rodou pela base de América-MG, Inter (sub-20 e sub-23) e Fluminense. Até que em 2012, surgiu a oportunidade de assumir o plantel profissional do Goiás. E mais uma vez, Enderson lembrou de Luís Fernando, que ainda estava na base do Cruzeiro. De prontidão, o bajeense aceitou a proposta e, após, sete anos, saiu do clube mineiro.
Até hoje, ambos trabalham juntos nos clubes que passam. O currículo inclui Goiás (2011 a 2013 e 2016); Grêmio (2014); Santos (2014 a 2015); Atlético-PR (2015); Fluminense (2015); América-MG (2016 a 2018); Bahia (2018 a 2019); Ceará (2019 a 2020) e Cruzeiro (2020). Destaque para o título da série B do Brasileirão, conquistado pelo América-MG, em 2017, na temporada que o Inter esteve presente. “Há nove temporadas estamos trabalhando juntos e estou muito feliz. Está acontecendo tudo que eu queria dentro daquilo que tínhamos como proposta”, destaca.
Momentos como jogador
Revelado no Guarany, em 1980, com apenas 16 anos, Luís Fernando atuou como meia. O bajeense teve grandes momentos no futebol, mas os que são mais lembrados pelos torcedores dizem respeito às passagens por Inter (1986 a 1989) e Cruzeiro (1990 a 1997). O detalhe é que ele não passou pelo processo de categoria de base.
Criado na Villa Kennedy, Luís Fernando foi descoberto quando jogava pelo time amador do bairro. E com apenas 16 anos, já vestia a camisa profissional do Guarany, numa época em que o clube vivia melhores momentos. No alvirrubro, atuou de 1980 até 1982. Depois, rodou por Atlético-RS (1981 a 1982); Esportivo (1983); Inter-SM (1983 a 1984); Pelotas (1984); Botafogo-PB (1985); Caxias (1985 a 1986); Inter (1986 a 1989); Bahia (1989 a 1990); Cruzeiro (1990 a 1997); Marítimo, de Portugal (1995); Villa Nova-MG (1998); ABC-RN (1998) e Rio Grande (2000).
Questionado sobre quais os momentos que considera melhores de sua carreira, ele opina baseado em duas classificações. “Em termos técnicos, sem dúvida foi no Internacional, onde tive anos maravilhosos. Mas em termos de títulos, o que mais marcou foi o Cruzeiro, onde conquistei nove taças. Depois, trabalhei seis anos na base do clube, e hoje tenho a oportunidade para trabalhar num momento que é muito importante”, ressalta.
Ênio Andrade, a principal referência
Sobre suas referências como treinador, visto que hoje exerce o cargo de auxiliar técnico, Luís Fernando aponta que todos os técnicos com quem trabalhou tiveram algum tipo de contribuição. Contudo, um deles é promovido a um degrau mais acima: Ênio Andrade, campeão brasileiro invicto pelo Inter, em 1979. Luís Fernando trabalhou com ele no Inter, na década de 80, e no Cruzeiro, na década de 90. “Foi uma pessoa que me marcou muito. Mas todos os treinadores agregaram. Sempre dá para tirar algo importante que eu possa aplicar hoje em dia”, afirma.
Perspectivas pós-pandemia
Como profissional do futebol, o bajeense espera que essa sirva de reflexão para que muitas medidas que regem, atualmente, o esporte, sejam revistas. “A situação dos 7 a 1 já colocou esse assunto em pauta. Mas a gente espera que as coisas melhorem de fato. Calendário, números jogos, preparação. Essa busca incessante por dinheiro transformou o futebol num negócio. Mas isso acaba sendo desgastante para atletas e comissões técnicas. Espera que isso seja revisto, na busca de uma compreensão de todos, seja jogadores, dirigentes, comissões técnicas. E na sociedade como um todo, que a gente possa retomar a vida normal em breve. Rezamos para que o Brasil vença esse momento e volte a ser um país maravilhoso”, pontua.
Vínculo com Bagé
Sempre que pode, Luís Fernando visita a Rainha da Fronteira. Geralmente, isso acontece no período de Natal e ano novo. Mas, por onde passa, leva o carinho da cidade. “Minha família e minha esposa são de Bagé. Tenho meus amigos da Vila Kennedy. Todo ano, no Natal ou ano novo venho para Bagé. Tenho a turma das pescarias também, os meus amigos Nando Farinha, Nelson, Heleno, Ailton, Nininho. Bagé mora no meu coração. Sempre estou lendo o jornal e escutando a Pop Rock, com o programa de esportes do Nando. Eu amo essa cidade”, conclui.