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Tempos do Huracan

Em 02/07/2024 às 13:45h, por José Carlos Teixeira Giorgis

Marcel Proust considerava as madeleines da tia como “lembranças involuntárias” ou recordações que lhe causavam prazer. Pois uma das madeleines que mais degusto no solar das memórias foi a época em que atuei no time do Huracan. Foi assim.

Havia retornado de Porto Alegre e iniciado a carreira no magistério. Como novato não rejeitava convite para ministrar aula. Manhã, tarde, noite, ainda sinto o cheiro da caneta bic deslizando no caderno de esquemas e anotações. Os alunos se erguiam na entrada do mestre que, depois de uma olhada continental, acenava para que se acomodassem. Às vezes, o olhar, de propósito, demorava para valorizar aquele treino de autoridade. Logo as carteiras subiam os tampos para conferir o livro e o professor descia do púlpito com giz e apagador, rumo ao quadro-negro. Até que a sineta soasse, liberando o pátio; ou a Aracy permitisse a saída até a padaria da esquina.

Quartas-feiras lecionava nas freiras. Tipo quatro horas, lépido, descia a escadaria, chave na ignição do fusquinha- sim, já tinha um comprado em suaves prestações- e tocava para a Praça Duque de Caxias. No banco de trás uma sacola vigiava as botinas com agarradeiras de ferro, calção, as meias, toalha: as armas do craque.

A praça, com raras árvores nas laterais, era um areião, não existia, ainda, escola ou colégio. Nossos adversários semanais habitavam um prédio próximo: a Cadeia, que vizinhava com os Zíngaros. Ou seja, toda santa quarta, o Huracan jogava contra os presos sob a vigilância dos brigadianos. A refrega, embora não tivesse o cavalheirismo dos espadachins, deixava alguns hematomas, riscos a exigir mertiolato. Não se pedia sursis. O goleiro dos apenados era o Camiseiro, autor de um homicídio que abalara a sociedade. Acontece que, um dia, ele foge. E aí é cancelada a licença para o time deles sair das grades. Teve-se de achar outros parceiros pelos bairros. Que nem sempre foram tão leais como os reclusos. Sobre minha atuação, embora a boa vontade dos companheiros em me deixar na “boca do gol”, não foi suficiente para conseguir um contrato de experiência no 4º time do Guarany. Guardo com alegria uma frase do Candão: “ o professor hoje está inspirado”. Mas o importante foi o orgulho de ter convivido aqueles instantes com o Danilão e Didi, os irmãos Jura e Leleco Orabe, Quininho, Candão, Queixinho, João Carlos, Edgar, e tantos outros. Aliás, além do futebol o Huracan brilhou nos primórdios do futsal, nas quadras de cimento da Praça de Desportos. Na sua história está a noite de pancadarias depois de um jogo naquele logradouro, E ainda nos campeonatos de várzea, onde foi campeão. O nome talvez fora escolhido por influência do homônimo argentino, mas sem o acento.

Fim de ano se fazia um churrasco no Destacamento da Brigada, que ficava na esquina da Praça Duque. Num deles, o Danilo Nigris tropeçou na entrada do local e foi ao chão parte da salada. Ele não teve dúvidas: juntou o que caíra, misturou com o resto, e todos “muito apreciamos” o esquisito manjar. O universo do Huracan começava na empresa dos Orabe, e se estendia até os confins da Pedra Moura. Ali na marcenaria da Gomes Carneiro se fabricavam porteiras, bancos, esquadrias, móveis de madeira, sob a orientação de seu João e filhos, ponto de reunião e mate de muitos integrantes do clube.

Soube que o Leleco Orabe pediu a meu irmão Fernando que sugerisse contar nesta coluna os episódios do Huracan. Fazê-lo agora, sem ele e os demais que partiram antes, não tem a mesma emoção como a de haver envergado a jaqueta vermelha e amarela do Huracan e participar de um grupo tão fraterno e amorável, uma das mais saborosas madeleines de minhas recordações.

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