Ernesto Wayne e o Grupo de Bagé
Uma das fotos clássicas do Grupo de Bagé foi obtida em 1948 e, nela, sentados aparecem Jacy Maraschin, Glênio Bianchetti, Danúbio Gonçalves e Ernesto Wayne; de pé, na mesma ordem, Pedro R. Wayne, Clóvis Assumpção, Ernesto Costa e Clóvis Chagas. A foto foi batida por Glauco Rodrigues que, nela, está representado por um autorretrato no cavalete.
No livro que ora comento, Ernesto ainda conta os locais onde os integrantes do Grupo de Bagé tiveram seus atelieres: na rua Barão do Triunfo, entre a General Neto e a Bento Gonçalves, na chácara da Sra. Stechmann, ao tempo em que José Moraes esteve em Bagé, em gozo de Prêmio de Viagem ao país; na rua Barão do Amazonas, nos fundos do Hotel do Comércio; na rua João Manuel; na parte velha da Avenida Sete, no sobrado defronte ao Orfanato Sâo Benedito, onde, dez anos mais tarde, iria morar e escrever seus versos e morrer Camilo Rocha; no Passo do Príncipe, em que Glauco Rodrigues, em esplêndida fase de “fauve” pintaria o retrato que desde então o acompanha.
O atelier da rua João Manuel e o sobrado da Catedral foram alugados em sociedade com Ernesto Costa que neles residiu à época em que foi diretor da Biblioteca Púbica Municipal e em que escreveu peças de teatro (“Insônia de uma noite”), e contos (“O homem caído”, “Flores para um Morto”), alguns deles publicados em jornais da São Paulo, por iniciativa de sua irmã, Edy Lima, outro nome, segundo Ernesto, que não pode ser omitido naquele apressado sumário das letras modernas bajeenses. Embora se afastasse de Bagé ainda muito moça, aqui nasceu e a presença de sua cidade natal é uma constante, pelo menos nos melhores momentos de sua obra, como é o caso do romance “Minuano” e a peça “A Farsa da Esposa Perfeita”, construída à base de recordações se personagens de sua infância, no Bairro do Povo Novo e que lhe valeu o prêmio de melhor peça apresentada em 1959 na capital bandeirante. Edy incursionou com êxito na área da literatura infantil: ”A Moedinha Amassada”, “O Macaco e o Confeito” “O Menor Anão do Mundo” e “História do Brasil”.
No trabalho, Ernesto cobra de Tarcísio Taborda, quanto antes, o aparecimento de sua “História de Bagé para Crianças”, pronta há muito tempo: e lembra que a Biblioteca Municipal era dirigida por Ernesto Costa, ali duas figuras eram assiduamente frequentadores: Tarcísio e Camilo Rocha, informando que o primeiro compilava o material que ia reunir em sua bela antologia “A Cidade Sonho”: e que Camilo recebia de Ernesto Costa a informação e orientação literária com que completava o seu talento e lhe permitia uma plena realização poética.
Para a redação do jornal local, Ernesto diz haver levado o cronista esportivo e comentarista político Camilo Rocha e os revisores Vicente Braile e Ramon Wayne, o primeiro autor dos contos “O Homem dos Provérbios” e “A próxima Hora”; e o segundo, do conto “O Baile dos Jacintos”, todos premiados por Paulo Rónai e Aurélio Buarque de Holanda, através do concurso permanente de contos mantido pela revista “A Cigarra”, na década de 50. Neste registro do conto em Bagé, vale mencionar a atividade de Pedro Wayne, nessa área: “Eu e ela” (Correio do Povo, Porto Alegre, 20/5/1935), “Rio Negro” (“Para Todos”, Rio, segunda quinzena de fevereiro de 1957 com ilustrações de Poty) e “No Porão”, o melhor dos três (Saúde em Revista, 8/9/1950). Em seu livro póstumo, “Lagoa da Música”, Pedro Wayne reuniria uma série de lendas locais, conclui Ernesto.
Sem dúvida essa pequena, mas abrangente obra de Ernesto Wayne, é um farol essencial para quem se dedique à história da literatura bajeense. Também não esqueço de sugerir o costume que há em alguns países, o de inaugurar uma pequena placa numa nas casas em que o Grupo de Bagé tenha produzido sua obra singular.
Fonte: “Momentos do Modernismo em Bagé”, de Ernesto Wayne, Cadernos de Estudo 1, Fundação Universidade de Bagé, 1972.