Selayê, Pasqualito e Guedes
**** O primeiro título gaúcho do S.C. Internacional aconteceu em 1927, após vitória do colorado sobre o G.S. Bagé, que havia sido campeão em 1925, após vitória sobre o Grêmio, por 3 a 1, em jogo disputado no Estádio da Baixada. Segundo Dienstmann, os jogadores jalde-negros eram chamados de “Milionários”, por causa do farto dinheiro que a rica pecuária da fronteira despejava nos clubes de futebol. O time local era formado por Júlio Amaral, Ratão e Garcia; Chatinho, Moreira e Misael; Picão, Oliveira Pasqualito, João Bate-Bate e Nenel (Júlio, Moreira, Misael, Pasqualito e Oliveira haviam sido campeões estaduais de 1925. Moreira foi avô de Tovar). Pasqualito, o negro “El Maestro”, ou Paschoal Rodriguez, uruguaio de Rivera, jogou na seleção gaúcha (atuou em 6 partidas pelo selecionado rio-grandense), e era tido como “quase dono do Bagé”, refere o historiador. Chegou a ser cogitado a migrar para a seleção brasileira, sendo impedido por estrangeiro. O Bagé tinha, ainda, um ponteiro de 20 anos, rápido e habilidoso, bajeense nascido em 1907, chamado Daniel Banhel Gatto, o Picão. O terror das defesas, todavia, era Pasqualito, 24 anos, centroavante talentoso “chute forte e preciso, cabeçada poderosa, ostentoso. De Rivera passou ao Bagé, depois foi ao Nacional, do Uruguai e Boca Juniors, argentino. Depois do futebol trabalhou nos cassinos de Rivera”. Na partida decisiva em 1927 o Inter se apresentou com as camisetas vermelhas escuras de mangas longas, gola branca. O Bagé “veiu com fardamento de luxo, completo, tudo importado, camiseta com distintivo, chuteiras de fina pelica de carneiro. Comparadas com elas, as duras botinas de biqueiras metálicas da turma rubra pesam o dobro, parece até que fazem parte de armaduras medievais”, anota Dienstmann. No Internacional jogava o bajeense Abílio Melo, o “Lampinha”, 31 anos, centromédio, 110 jogos, cinco gols, antes atleta do Grêmio Santanense de 14 de Julho de Livramento, e no Uruguai pelo Tabaré e Atlético de Rivera. Sete anos de colorado, era um atleta tranquilo, mas sempre nervoso antes das partidas.
**** Já não é mais novidade a presença de animais domésticos em viagens aéreas. A fila de ingresso mostra pessoas com bolsas/caixas/valises, e suas aberturas e no fundo os espertos olhos dos simpáticos pets. E que não abusam em latidos ou ronronares, comportando-se melhor que algum passageiro. No entanto, em viagem recente, deparo com algo inusitado: o cachorrinho/gatinho passando sob o crivo rigoroso dos raio-X da polícia e alfândega. Enfim, também iguais.
**** Uma das características da literatura de Greice Martins é a versão do texto em outra língua que costuma adotar em seus livros. Recordo que sua prestação de contas (“Cara branca”) quando deixou a presidência da Associação Brasileira Hereford e Braford também foi publicizada em inglês. A novela “Retrato de Família” foi lançada ainda em francês, quando de sua apresentação em Paris. Agora, em outra das primícias da escritrora, aluna das oficinas de Alcy Cheuiche, a obra “Selayê” em que a escritora trabalha com personagens e fatos de Bagé está redigida em português, espanhol e inglês. Assim, além do agradável conteúdo histórico, se oportuniza uma revisão e treino de outras duas línguas-irmãs.
**** Em meio e fim da década de noventa, era grande a efervescência dos grupos poéticos em Bagé. Um dos mais originais e talentosos se reunia no Café Cervantes que, seguidamente, editava um panfleto com versos, crônicas, entrevistas, denominada “Em cartaz”. Também produziram outra publicação, doada aos bares, e que se usava de “toalha”, para as mesas, de modo que os fregueses ficavam a par das produções do grupo. Há dias, no “retiro hospitalar” que passei em Brasília, um dos líderes e poeta inspirado, o agora jurista de renome Jefferson Carús Guedes propiciou um contato com a coleção completa que tem desta arte gráfica e literária, episódio que merece lembrar. E republicado, como ainda, um efetivo levantamento da poesia daqueles jovens, titulares de um significativo momento da cultura bajeense.