Pirenópolis e Alhures
- É a segunda vez que vou a Pirenópolis neste ano. A simpática cidade fica próxima de Brasília, duas horas de viagem por estradas movimentadas. Uma curiosidade é ser atravessada pela Br 153, via que tem raízes em Bagé também. Indaguei de um morador sobre o nome do local, oriundo da Serra dos Pirineus. Explicou que as elevações que margeiam município se parecem com as cordilheiras que separam França e Espanha. Os caiapós foram os primeiros habitantes. Vieram logo as expedições de Sebastião Marinho e depois a “bandeira” de Bartolomeu Bueno, o “Anhanguera”, expulso de Minas Gerais na Guerra dos Emboabas e que se situou no ponto chamado “Meia Ponte”. Em 1717 o município se chamava Minas de Nossas Senhora do Rosário de Meia Ponte. E nome que, em 1890, mudou para Pirenópolis que ora se limita com Anápolis, Abadiânia, Corumbá, Petrolina, etc. A cidade é reconhecida como um lugar de turismo relevante, com suas vielas, becos, calçamento, clima, serras e águas límpidas de suas cachoeiras. O centro histórico, apinhado de lojinhas, pousadas, restaurantes, casas típicas da presença lusitana e numerosas igrejas e capelas, é um núcleo vibrante sob um sol cáustico e noites amenas. Mantém-se as festas tradicionais como as batalhas, as embaixadas, o encontro dos reis, o batismo dos mouros e principalmente as cavalhadas de forte influência portuguesa. Vez e outra, se encontram espalhados manequins, os “bois mascarados”, com suas roupas extravagantes e coloridas. Diz-se que havendo vedação das festas aos escravos, eles vestiam, para disfarçar, uma máscara enfeitada que imitava um boi e que, montados em cavalos, aproveitavam para divulgar críticas políticas, fazendo algazarra e dançando pelas ruas. A máscara do boi é típica de Pirenópolis e, a miúde, se depara com algum exemplar sentado em alguma soleira ou embaixo de árvore, com uma máscara colorida e variada. Durante o ano se efetuam essas cavalhadas, bem conhecidas da tradição lusitana, com as “lutas” entre “cristãos e mouros”. Pirenópolis merece ser visitadas para reencontrar o Brasil primitivo, com suas tradições e mitos, a ingenuidade de suas festas e crenças.
- Carlos Roberto Martins Brasil diplomou-se em Medicina Veterinária e depois em Direito na Universidade Federal, onde também cursou o mestrado em Administração. Era pós-graduado em Planejamento Econômico pelo Instituto Latino Americano e Planejamento Municipal pela Organização dos Estados Americanos. Tais requisitos o levaram ao desempenho de importantes funções públicas estaduais, tendo sido Secretário do Conselho de Desenvolvimento do Extremo Sul e Codesul atividade rural e à advocacia. Embora essa febril atividade, Carlos Roberto voltou-se, com originalidade e disciplina à pesquisa documental e histórica, frequentando com destemor os arquivos do Instituto Histórico e Público do RS, de São Paulo e também o Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal. Neste último desenvolveu, com pertinácia, exemplar análise das fontes lusitanas, o que fez também com os elementos contidos nos Registros Paroquiais e Civis do Estado, prospectando aqui as origens de diversas famílias gaúchas, especialmente a que diziam com seu afeto. Isso trouxe ao seu conhecimento as árvores genealógicas de clãs pioneiras. Disso redundou a publicação da obra “Sesmarias em São Sebastião de Bagé”, em que narra com autoridade histórica os eventos primordiais de Aceguá, Bagé, Dom Pedrito, Hulha Negra, Candiota, além de incidências sobre Lavras e Santana do Livramento. Ainda no apuro de tal documentação voltou-se Carlos Roberto ao exame das fontes referidas à própria família Brasil, o que traçou também com singularidade, além de outros grupos familiares como Collares, Faria, Correa de Barros, Martins Coelho, Silva Tavares, Lopes dos Santos e outras. Disso resultou a publicação de “Pioneiros Açorianos”, reunião clássica e ordenada destas perquirições. Carlos Roberto tinha também especial disposição em atender as indagações e dúvidas a respeito dos assuntos que tratou em suas obras e outros textos, consultoria que desempenhava com atenção e profundidade, entendendo que o saber deve ser partilhado entre todos, sem vaidades ou pertencimento. O falecimento inesperado do ilustre conterrâneo e cidadão abre dolorido vazio entre seus familiares e priva o grupo de bajeenses que com ele convivia cada semana de sua alegria, solidariedade e presteza.
- Há pouco se comemorou o “Dia da Consciência Negra”, exaltando-se a presença e contribuição dos pretos em diversas atividades nacionais. Relembre-se também do futebol. O respeitado cronista e historiador Cláudio Dienstmann, em seu livro clássico sobre o futebol gaúcho, declara que três anos depois do Vasco da Gama ter contratado atletas negros “já o Guarany de Bagé usava jogadores negros no time que ganhou o campeonato gaúcho de 1920 com finais em Pelotas”. O jornalista ancora sua afirmação em foto publicada na revista “Ilustração Pelotense”, antes do jogo com o Uruguaiana. É fato sabido que em 1920, época de liderança do futebol da fronteira, o Guarany trouxera os uruguaios Granja, Grecco, Ruival e Seixas. Basta mirar a foto dos campeões estaduais de 1920 para comprovar a presença de um atleta negro no time campeão. Dizia o jornal da época que um chute de Greco, autor do gol que garantiu o campeonato, quase “quebrou” a mão do grande Lara, festejado goleiro do Grêmio Porto-Alegrense.