E por falar em Filosofia
O professor Luiz Osvaldo Leite, além de pensador reconhecido, dedica-se em completar um abrangente estudo sobre a Filosofia no Rio Grande do Sul, havendo publicado em coletânea do Círculo de Pesquisas Literárias as primeiras pesquisas onde inventaria os intelectuais gaúchos que se dedicaram ao elevado mister. Como sabido os estudos filosóficos, bem como os centros universitários que os irradiavam, foram abatidos na década de sessenta, ceifando da comunidade pessoas que os professavam, afastados das universidades como perigosos párias e os excluindo de cátedras e currículos. A Filosofia virou um resíduo, poucas faculdades a cultivam, deixando de constar na lista de saberes essenciais ou exigência para assumir determinada função pública. Em outra acepção, apenas um diletantismo, uma leitura secundária e complementar. Bagé já teve sua Faculdade de Filosofia, também sepulta.
O professor Leite é otimista e imagina uma “quarta fase” em sua classificação que teria iniciado em 1974 até agora, verdadeiro apogeu devido aos Programas de Pós-Graduação que exigem bibliotecas, revistas, dissertações e teses, onde vão surgindo estudos, algumas correntes de pensamento, jornais, editoras. Diplomas de “honoris”.
O Rio Grande, então, tem representantes de diversas escolas, como a analítica, anarquismo, cientificismo, existencialismo, kantismo, marxismo, escola neoescolástica e positivismo. Ao pontuar seu estudo nas cidades de nascimento dos filósofos, Leite refere os seguintes bajeenses: Clóvis Assumpção, Félix Contreiras Rodrigues, Felipe Machado Carrion e Januário Lucas Gafrée. A relação, que é uma nota prévia, seguramente pode ser acrescida de outros pensadores; e atrevo-me a arrolar Eduardo Contreiras Rodrigues, João Bosco Abero, Rubem Bittencourt de Almeida, José Francisco Botelho e Venâncio Pastorini Sobrinho, entre outros. Tenho certeza que os leitores auxiliarão em completar essa seleção. Peço vênia, por ora, apenas tratar de dois deles.
Por exemplo, Januário Lucas Gafrée, professor de Filosofia do Direito na Universidade Federal, foi o primeiro sábio, por aqui, a tratar da filosofia kantiana. Seu livro, “A Teoria do Conhecimento de Kant” é, na história da bibliografia filosófica brasileira, o primeiro desse gênero que veio à luz. Segundo ele, o problema fundamental de que depende toda a discussão filosófica, é o problema gnosiológico, isto é, a possibilidade ou impossibilidade de a razão pessoal conhecer a realidade do mundo com todas as coisas que o constituem. A obra de Gafrée tem sido redescoberta por sua originalidade e importância. Venâncio Pastorini Sobrinho, é mais conhecido por seu “testamento”, por sua conduta pessoal no figurino de Malatesta; e por construir com outros anarquistas italianos e espanhóis que se hospedaram aqui, um dos mais importantes núcleos brasileiros da imprensa anarquista. Pastorini deixou uma série de panfletos e textos que distribuía pelas ruas, onde expressava o respeito às regras propostas por Bakunin. Já cuido de reunir sua produção escrita para uma futura publicação, desde que seus legatários o permitam. Há alguns anos, instigado no que contei de Pastorini, a biblioteca do Centro Anarquista do Rio de Janeiro deu o nome de Venâncio para uma estante inteira de obras libertárias. É um nome nacional, assim como proeminente, é aquele período em que a cidade se inundou de periódicos anarquistas.
Lembre-se a admoestação do padre Leonel Franca: “É a falta de estudos metódicos e profundos, feitos sob a direção de mestres abalizados, que atribuímos a inferioridade da cultura filosófica brasileira”.