Urcamp
Data celebra luta contra a violência às mulheres em todo o Brasil
por Redação JM
Por Bianca Vaz
Acadêmica de Jornalismo da Urcamp
No próximo domingo, 10 de outubro, é celebrado o Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher. A data, comemorada desde 1980, marca o dia em que um grupo de mulheres se reuniu nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, como parte de um movimento de caráter nacional, em protesto contra o então índice crescente de crimes contra mulheres em todo o Brasil.
De lá para cá, as mulheres brasileiras conseguiram conquistas importantes, como por exemplo, a criação da Lei Maria da Penha, em 2006. Porém, o fim dos casos de violência contra mulheres no Brasil ainda está longe de acontecer. No ano passado, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, foram denunciados 105.821 casos de violência contra a mulher no país através de plataformas como o Ligue 180, que presta escuta e acolhida às mulheres em situação de violência.
Em 2021, no Rio Grande do Sul, por exemplo, até o mês de agosto, haviam sido denunciados mais de 11 mil casos de agressões físicas; 1,2 mil estupros e quase 21 mil ameaças contra mulheres, além de 72 feminicídios consumados e 162 tentativas.
Conforme a titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher em Bagé, Daniela Barbosa de Borba, em média a unidade recebe cerca de 100 ocorrências por mês. A delegada salienta que a mulher deve estar atenta para os primeiros sinais da violência doméstica, que costumam ir tomando uma proporção maior no decorrer do relacionamento.
Caso seja vítima de violência, a mulher deve procurar a Delegacia, que fica na Avenida Sete de Setembro, 634, para registrar ocorrência e solicitar medida protetiva de urgência. Daniela também ressalta a importância do apoio de familiares e amigos. “Eles podem ajudar as vítimas de diversas formas: ouvindo, aconselhando, acolhendo e inclusive fazendo denúncias, mesmo que de forma anônima”, garante.
O papel da Coordenadora da Mulher
A coordenadora municipal de Políticas Públicas para Mulheres, Cândida Navarro, explica que o papel da sua Coordenadoria na luta contra a violência às mulheres é de criar, implementar e articular ações e políticas públicas para enfrentamento à violência, e para o acolhimento da vítima. “Ela trata das políticas de prevenção, e organiza e implementa as ações a nível Municipal, assessorando o poder público dentro do município”, afirma.
Para isso, explica que o órgão público luta contra a violência levando conhecimento, comunicando a mulher e a sua família sobre seus direitos, e tentando refletir sobre esses comportamentos abusivos através de conversas. “Falamos não apenas com as mulheres, mas com os homens também, afinal essas situações só vão mudar quando os homens mudarem a sua forma de pensar e agir com relação às mulheres”, conta.
Junto à Coordenadoria funciona o Centro de Referência de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (CRM), que também é coordenado por Cândida. O centro de referência é o órgão que acolhe a mulher quando a violência já aconteceu. “A ação dele é terapêutica, é de acolhimento e atendimento no momento da crise, no momento em que o ciclo da violência aconteceu, os dois se complementam”, explica.
Cândida comenta sobre dois projetos que são fundamentais para o trabalho da Coordenadoria. O primeiro deles é o “Tecendo as Redes", que foi implementado em 2017 e trata de reunir a Rede Pública, desde a Segurança Pública, Educação, Saúde, Assistência Social, Cultura e todos os órgãos, como as ONGs e os movimentos que trabalham com a prevenção à violência.
No projeto são realizados encontros mensais ou quinzenais em que a coordenadoria se reúne para tratar da questão da violência doméstica e intrafamiliar em Bagé, trazendo pessoas que possam agregar conhecimento ao trabalho que é realizado, e ao mesmo tempo realizando palestras, encontros, rodas de conversa nos bairros, nas escolas, associações de moradores e nas igrejas. “Onde tiver um grupo que queira ouvir, a gente vai estar com a nossa equipe multidisciplinar atendendo e levando a informação, comunicando o nosso trabalho, mostrando a importância de se criar dentro da comunidade multiplicadores dessa política pública”, declara.
A segunda ação mencionada pela coordenadora é com relação ao projeto “Desconstruindo a Violência”, em convênio com o Governo no Estado, que promove o diálogo e mapeia a violência no município, além de trabalhar na identificação dos tipos de violência contra as mulheres. “A gente monta uma estrutura numa localidade e ali nós conversamos com as pessoas daquela comunidade para que os moradores consigam reconhecer se existe violência naquele bairro”, destaca.
Segundo a coordenadora, primeiramente é identificado os tipos de violências que acontecem. E então a coordenadoria trabalha com os agentes públicos de combate à violência praticada contra a mulher, incentivando a denúncia anônima e mostrando a rede de acolhimento. “Quando chega até nós, a gente verifica se ela precisa de médico, quais os atendimentos, quais os encaminhamentos que ela precisa com urgência, e vamos fazer esse acompanhamento, pois ela tem um acompanhamento social e jurídico conosco”, explica.
A coordenadoria possui um plantão de denúncias 24h de domingo a domingo, o número do telefone para contato é (53) 99966.3829. Além disso, a pessoa pode ir ao local, que fica na Rua Marcílio Dias, 1800, junto ao Centro do Idoso, em frente ao prédio da Receita Federal, e conversar com técnicos para se instruir e depois ser acompanhada pela equipe para fazer o B.O. e receber acompanhamento psicossocial e jurídico.
Cândida destaca que a violência não é só física, ela também é psicológica, patrimonial, sexual e moral. “A gente precisa combater todos os tipos de violência porque a tendência é que se preocupe apenas com a questão da violência física, porque aparece, mas não é assim. A violência psicológica é cruel”, pondera.
A coordenadora também afirma que a violência acontece por ciclos, que envolvem a explosão de violência, xingamentos e surras, o “arrependimento” do agressor, que pede desculpas e promete que vai mudar e a “Lua de Mel”, onde tudo está bem até a próxima agressão. “O recado principal que a gente deixa para as mulheres é que elas não estão sozinhas, e para a sociedade é de que entre um casal, seja um homem e uma mulher, duas mulheres ou dois homens, a única coisa que pode bater é o coração”, declara a coordenadora.
LEGENDAS DAS FOTOS
Foto1: Delegacia da Mulher recebe cerca de 100 denúncias por mês em Bagé
Foto2: Veja como funciona o ciclo de violência
Delegada Daniela: Delegada Daniela afirma que mulheres devem estar atentas para os primeiros sinais da violência doméstica.
Coordenadora Cândida: Cândida destaca que coordenadoria possui plantão de denúncias 24h