A mística do trem
Em 18 de novembro de 1911, o Guarany adquire o terreno onde construiu o então Estádio da Estrela D’Alva. E edifica o histórico pavilhão de madeira com recursos dos simpatizantes, meu pai contava. A primeira partida acontece em 13 de junho de 1915, triunfo sobre o Carlos Gomes, 2 a 1, gols de Nenito Marques e Ernesto Médici Sobrinho, de pênalti.
Foto Acervo Arquivo Municipal. Doação Sérgio Galvão.
O campo vizinhava com as “Caieiras”, antes de Nocchi e Cachapuz, empresa que, em 1952, auxiliaria na compra e instalação dos refletores. As Caieiras, quando eu menino, eram de Ghisolphi & Baldi. E, presidente, “sonhei comprar” o terreno delas para ali instalar o clube social do bairro, com sede, piscinas e quadras. Sonho louco. Hoje é habitado por edifícios.
O simbólico pavilhão dos sócios rugia nos jogos. Dele se ouviam os exercícios no vestiário abaixo onde os atletas aqueciam e depois ingressavam no gramado, através de uma cancela, que Valenciano pulou, certa vez, com um curativo na testa quando se dizia que não ia atuar no Ba-Gua. Além de “bater os pés” na madeira, quando o time saudava, também repicavam quando o trem passava. É que depois das Caieiras haviam trilhos para os “trens de carreira”, que chegavam depois das quatro.
Quando o Guarany estava perdendo, a torcida murmurava “falta o trem, ainda falta o trem, vamos empatar, vamos ganhar”, era a reza de esperança, que deu muito resultado. E lá pelas cinco horas o trem apitava na “Curva do 21”.
Quadro de Ivan Soares. Acervo do Autor.
E vinha, e vinha, resfolegando fumaça, as rodas rangendo, apitando, apitando. A torcida batia os pés no pavilhão e gritava, urrava, “vamos, vamos Guarany”. E não mais que de repente a bola vermelha violentava as redes. No fim o sorriso, o domingo salvo. Mais uma vitória alvirrubra.