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A epigenética e a gravidez de substituição

Outrora o professor de biologia enfrentava alguns dogmas ao lecionar. Por exemplo, a origem da vida que se explicava somente pelo criacionismo. Ou a evolução das espécies, apregoada pelo darwinismo, também anátema.

Em 14/04/2024 às 09:58h, por José Carlos Teixeira Giorgis

Outrora o professor de biologia enfrentava alguns dogmas ao lecionar. Por exemplo, a origem da vida que se explicava somente pelo criacionismo. Ou a evolução das espécies, apregoada pelo darwinismo, também anátema. Os ciclos para a fecundação, quando inexistente a pílula ou o preservativo, verdadeiros tabus. Reconheça-se, todavia, que as barreiras foram superadas pela coragem em apontar as realidades, pelo continuado progresso das ciências médicas e o pioneirismo de determinados autores. O padre Teilhard de Chardin conseguiu conciliar a versão bíblica com a ideia de Darwin, embora as agruras sofridas. O físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser, vencedor do Prêmio Templeton, considerado o "Nobel da espiritualidade", em seu último livro demonstra a possibilidade de convivência harmônica entre fé e ciência.

Pois na sala de aula se ensinava que apenas os genes são capazes de determinar as características humanas, sem nenhuma ingerência do ambiente. O velho Mendel com suas ervilhas, as moscas drosófilas; os cruzamentos nos quadrinhos hoje se encabulam perante o código genético, o baile da espiral, adenina, citosina guanina, timina, ACGT, as mensagens cifradas. E lá se refutavam os ensinamentos de Lamarck que tentava convencer porque o pescoço da girafa cresceu durante gerações; além da condenação às ideias de Lysenko, esse por ser russo e pouco sério em algumas experiências. Eu vos digo, como fazia nos tempos do Estadual, que surgiu um ramo novo, a Epigenética, que retoma as antigas afirmações para demonstrar que o ambiente influencia na hereditariedade em certas ocasiões.

1. Epigenética é o estudo das mudanças nas funções dos genes que não se devem a alterações da sequência do DNA (as combinações das "letrinhas" acima), que se perpetuam nas divisões celulares, mas a fatores ambientais que atuam durante a gravidez. Como disse alguém, os genes vivem em "silencio" no DNA "dobrado" no interior do núcleo celular. De vez enquanto são ativados para sintetizar proteínas, que transcritas pelos "mensageiros" formam as características humanas. Esses pedaços de DNA têm uma "potência" para ser alguma coisa, mas dependem de certas proteínas, as metilas, que lhes vem "colar uma etiqueta", assim como o preço de um produto comercial. Essas substâncias estão "soltas" nos mares nucleares e, excepcionalmente, podem se desgarrar e "namorar" sentimentos e causas variadas (estresse, experiências maternas, radiação, fumo, etc.) passados pela mãe grávida, "colando" nos genes "silentes" e daí gerar determinada característica "não esperada", embora o rigorismo da disciplina genética. (Aqui um aluno me interromperia, e na linguagem peculiar indaga: " Mestre, estou voando, a bola está muito alta, não dá para dar exemplo concreto? " Viro para a parede, apago o quadro-negro, tomo o giz vermelho e, ringindo, escrevo:).

2. Casos pesquisados. Num consultório a mãe leva seus filhos gêmeos univitelinos (iguais, vieram da mesma célula-ovo, depois da fecundação; hoje se fala em "gêmeos homozigóticos", termo mais recomendado). Um deles, como narra Richard Francis, era um típico jovem masculino, parrudo, atlético, completo. Quando o outro gêmeo se despiu, o médico repara que lhe faltava a genitália, os órgãos pareciam atrofiados, imberbe, com aparência de seios, deficiência de olfato. Foi diagnosticada a síndrome de Kallmann, um distúrbio do desenvolvimento sexual, doença genética. Mas como: eram gêmeos idênticos, clones naturais, porque tão diferentes? Adianto as opiniões: Tais discrepâncias, às vezes, são o resultado de processos bioquímicos aleatórios, em geral uma mutação, mas agora também a "mudança epigenética", como resposta ao ambiente, à alimentação, aos poluentes a que somos expostos e às interações sociais. Conto outro exemplo mais significativo, pois também histórico.

Em setembro de 1944, fins da Segunda Guerra, os alemães já estavam em retirada de alguns países da Europa. Menos no nordeste da Holanda, embora a ameaça aliada. Em Arnhem o governo holandês no exílio ordena uma greve ferroviária. Os nazistas, então, em retaliação, instituem um embargo de alimentos, bloqueio que coincide com um inverno severo. Além de destruírem infraestruturas de transporte, inundam as terras cultiváveis. A dieta dos holandeses se reduz a mil calorias diárias, contrastando com as 2.300 habituais. Em 1945 as provisões estão em 580 calorias. Os moradores se alimentavam apenas de batatas, pão e um torrão de açúcar. Terras são trocadas por comida, tal a miséria. São afetados a classe média e os pobres das cidades, menos os camponeses que se defendem. Quando a Holanda é libertada 22 mil pessoas da região oeste haviam morrido por desnutrição. Entre os sobreviventes dos locais com dieta reduzida muitas mulheres grávidas.

Depois da Guerra para lá foram cientistas da Harvard Medical School a fim de verificar os efeitos da nutrição materna sobre o desenvolvimento fetal. E depois de muita pesquisa constaram: o peso dos bebês nascidos no período da fome eram consideravelmente menores dos que haviam nascido antes da ocupação. Os jovens recrutados para o serviço militar, então aos dezoito anos, que estavam no ventre materno, expostos à fome durante o segundo e terceiro trimestre de gravidez, eram obesos, o dobro dos nascidos antes ou depois da fome. Os que tinham sido expostos à fome durante a gestação tinham risco de desenvolver esquizofrenia e outros distúrbios afetivos como depressão. Até transtornos da personalidade foram constatados. As meninas nasciam com pouco peso. " Diferentes tipos de células reagem de forma diversa ao mesmo fator ambiental, seja ele estresse social ou carência alimentar", afirma Francis. As células do fígado reagem de uma maneira às carências nutricionais, os neurônios de outra maneira, outras nem têm reação. A influência ambiental sobre o funcionamento dos genes, segundo os cientistas, dá-se mais em células de zonas específicas do cérebro, fígado, pâncreas e algum outro órgão.

Traumas da gravidez podem gerar descendentes estressados. As mudanças epigenéticas são verdadeiros "ajustes" na expressão dos genes. E as mães podem passar emoções durante a gravidez pela liberação de hormônios que acabam regulando a expressão dos genes. Entre os fatores ambientais que podem atuar estão: experiências dos pais, dietas alimentares, maus-tratos, efeitos cognitivos da mãe, tratamento hormonal, poluição, radiação, alimentos, fumo, doenças, traumas do envelhecimento, estilo de vida. São, como disse, circunstâncias absolutamente ocasionais, que diferem de pessoa a outra.

Com muito espírito alguém disse, usando a prática teatral, que o gene é o diretor; as proteínas os atores e os compostos químicos os contrarregras.

E daí, dirão alguns, o que isso tem a ver com a barriga de aluguel?

Como nos tempos da matinê do Avenida, isso será revelado no "próximo episódio".

Leitura: "A Epigenética. Como a ciência está revolucionando o que sabemos sobre hereditariedade", de Richard C. Francis, doutor em neurobiologia e pesquisador das Universidades da Califórnia, Berkeley e Stanford. Editora Zahar, 2015.

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