Saúde
O perigo dos alimentos ultraprocessados
por Giana Cunha
O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) apontou que pelo menos 25% das calorias consumidas pelas crianças vêm de alimentos ultraprocessados. Menores de até seis anos tiveram os perfis alimentares analisados em 123 municípios de todo o Brasil, em pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde. E os resultados acenderam um sinal de alerta.
Pelo menos 80% das crianças abaixo de cinco anos costumam consumir alimentos ultraprocessados e 25% das calorias ingeridas por elas vêm exclusivamente desse tipo de produto. Na faixa de dois a cinco anos, a proporção chega a 30%.
A nutricionista e professora doutora do curso de Nutrição da Urcamp, Mônica Palomino de los Santos, avaliou o assunto. Segundo ela, alimentos ultraprocessados, geralmente, são ricos em componentes como gorduras, açúcares e sódio, mas são pobres em fibras.
O que são?
São produtos que sofrem diversas etapas e técnicas de processamento e recebem aditivos como edulcorantes, corantes, aromatizantes e realçadores de sabor, utilizados para deixar os produtos mais atraentes e com maior durabilidade nas prateleiras. Esses produtos são nutricionalmente desequilibrados, pois possuem alta densidade energética, alta densidade de gordura, alto teor de açúcar e sódio e pouco teor de fibras e proteínas, e devem ser evitados antes dos dois anos de vida, uma vez que o consumo excessivo desses alimentos está associado à anemia, ao excesso de peso e a alergias alimentares, além de ter efeitos a longo prazo na saúde das crianças, predispondo-os ao desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta.
A ingestão de alimentação rica em gorduras e açúcares desde a infância está intimamente ligada à obesidade infantil, surgimento de hipertensão arterial, diabetes e aumento do risco cardiovascular precoce, além de outras complicações.
Fatores condicionantes
Diferentes fatores socioeconômicos e ambientais podem estar relacionados à escolha desses produtos em detrimento dos in natura ou minimamente processados. Entre eles, o ritmo de vida acelerado, o poder de compra, a publicidade infantil, o acesso às orientações de saúde na primeira infância e à escolaridade materna, destaca a professora Mônica.
Um dos grandes problemas é que os alimentos ultraprocessados, como biscoitos, macarrões instantâneos e refrigerantes, oferecem muito mais atrativos. A alta palatabilidade dá uma sensação de prazer, uma liberação de dopamina muito grande, o que faz com que ela queira cada vez mais. A pesquisa ainda apontou a praticidade como um dos motivos do aumento do consumo. E professora alerta que a reeducação alimentar, por exemplo, pode evitar problemas de saúde.
Dados preocupantes
Os dados da pesquisa, no Brasil, apontam que pelo menos a metade das crianças na faixa etária não consome frutas na sua rotina e 80% delas não têm raízes e tubérculos incluídas na dieta. Os bebês menores de dois anos, ainda em fase de introdução alimentar, são os que menos ingerem frutas e hortaliças.
Em Bagé, uma pesquisa feita com acadêmicos do curso de Nutrição da Urcamp apontou que pelo menos 40% dos estudantes de oito escolas pesquisadas apresentam sobrepeso ou obesidade. Mônica destaca que, em 25 anos de estudos na área de alimentação, há uma transição nutricional. Se há alguns anos o maior problema encontrado era a desnutrição, agora é a obesidade ocasionada pelo sedentarismo e má alimentação.
Como evitar
A alimentação saudável de uma criança é responsabilidade compartilhada da família, Estado e sociedade. Profissionais de saúde, pais e educadores devem adotar medidas individuais e coletivas com atenção ao desenvolvimento na primeira infância.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar/PNAE apresenta como tema central garantir a segurança alimentar e nutricional no país, com o foco em alimentos variados, seguros que respeitem a cultura, a tradição e os hábitos alimentares saudáveis, desenvolvendo assim ações de educação alimentar e nutricional (BRASIL, 2020).