Estado

Enchentes no Rio Grande do Sul revelam superação e voluntariado de estudantes universitários

Universidades e comunidades unem esforços para oferecer suporte e reconstruir vidas após situação de calamidade no Estado

por Joice Cougo e Priscila Petrecheli

Acadêmicas de Jornalismo da Urcamp

Durante o mês de maio, as fortes chuvas resultaram em enchentes devastadoras em várias cidades do Rio Grande do Sul, o que causou extensa destruição, impactando severamente a vida de muitos gaúchos. A tragédia, que se caracterizou como uma das maiores no estado, inundou casas e interrompeu o funcionamento de diversas instituições educacionais. Isso afetou os estudantes universitários que ainda enfrentam dificuldades para retomar suas rotinas acadêmicas. Contudo, alunos do ensino superior viram no voluntariado uma oportunidade de exercerem sua profissão enquanto auxiliam quem precisa.

A estudante de Design Gráfico da Universidade La Salle, Gabrielle Alves, de 19 anos, é um exemplo de superação. Moradora de Canoas, ela e sua família viveram no meio do caos das enchentes. Gabrielle, por ser bolsista na universidade, optou por não trancar o curso, mesmo enfrentando dificuldades para acompanhar as atividades de forma produtiva neste período. A estudante se emociona ao falar que seus trabalhos da graduação foram perdidos. “Perdi todos os rascunhos de projetos, os meus estudos anotados, o meu material, eu vi tudo isso sendo jogado no lixo”, lamenta. Ademais, muitos de seus colegas precisaram interromper os estudos por questões logísticas.

A estudante enfrenta o desafio de retornar à normalidade, devido ao medo de um futuro incerto. No entanto, o apoio dos colegas não afetados têm facilitado a sua readaptação na universidade. Enquanto ela e outros estudantes lutam para reconstruir suas vidas, a colaboração e a solidariedade continuam sendo fundamentais para todos os impactados pelas enchentes. “Tem uma rede de apoio muito grande que me incentiva a continuar fazendo as coisas, a não parar a vida completamente. Eu sei que sozinha seria muito difícil, mas eu agradeço muito por ter muitas pessoas comigo, que me apoiam, por mais difícil que seja essa situação. Mesmo sabendo que nada mais vai voltar a como era antes, essas pessoas dão o apoio que precisamos para ter força para se reconstruir, para continuar com a vida”, conta.

Em meio às perdas significativas, a resposta da comunidade foi marcada pela união e solidariedade. Pessoas não afetadas diretamente se mobilizaram através de suporte, doações e abrigo. Diante desse cenário, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) se tornou um dos pontos de acolhimento para centenas de afetados. Além de fornecer estadia, ainda mobilizou cursos para oferecer serviços voluntários, com a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos nas graduações. O curso de Odontologia, sob a coordenação dos professores, formou uma força-tarefa composta por alunos e funcionários. A equipe montou uma clínica no primeiro andar do prédio para disponibilizar serviços odontológicos. Entre os voluntários, o estudante de Odontologia, Matheus Bahlis, participou de uma das iniciativas de auxílio às vítimas.

“Nós trouxemos eles para dentro da nossa universidade e prestamos atendimentos odontológicos de diversas áreas. A clínica ficava aberta nos turnos da manhã e tarde, atendendo desde crianças até idosos. Fizemos desde próteses, restaurações, tratamentos periodontais, extrações de dente e tínhamos professores de todas as área da Odontologia junto com os alunos”, relata Bahlis.

Para o acadêmico, o sentimento de gratidão se sobressai em meio a essa situação desafiadora ao poder confortar as vítimas, enquanto dá seus primeiros passos na profissão. Também menciona a solidariedade nacional que as regiões afetadas receberam, incluindo doações de roupas, alimentos, água e a presença de voluntários de diversas partes do país. “Conseguimos ver que todo o Brasil estava se empenhando em doar e ajudar do jeito que dava. A ajuda chegou muito rápido. Com certeza para alguns foi muito essencial nesse momento”, ressalta.

O Rio Grande do Sul ainda está em processo de superação e reconstrução. Quem perdeu todos seus bens materiais continua necessitando de doações. O estado e os gaúchos precisam se reerguer, e isso demanda força, união e solidariedade. Em relação a isso, diversas cidades, inclusive entidades e instituições de ensino, disponibilizam pontos de coletas de doações, entre elas o Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp).

A Urcamp é uma instituição comunitária e tem como característica marcar presença na vida dos locais onde atua, estando presente em Bagé, Santana do Livramento, Alegrete e Dom Pedrito. Pensando nas regiões mais atingidas, a instituição realizou, em todos seus campi, campanhas de arrecadação de donativos para enviar à Defesa Civil de Porto Alegre. Para sua edição de vestibular de inverno, lançou uma iniciativa para ajudar os atingidos através do Vestibular Solidário, isentando as taxas de inscrição e incentivando doações de brinquedos, materiais de limpeza, alimentos e roupas. Além disso, oferece um curso em sua plataforma Quo para quem doar, onde existem vários cursos de curta, média e longa duração. Além de ter a isenção da taxa de vestibular, o futuro acadêmico que realizar a matrícula pode escolher um curso gratuito nessa plataforma, ao realizar sua matrícula.

As devastações revelaram a força da solidariedade e do voluntariado entre as comunidades. Universidades e alunos se uniram para prestar assistência e reerguer os afetados, transformando a dor em oportunidade de aprendizado e ajuda mútua. Apesar dos desafios, a mobilização e a solidariedade continuam sendo pilares essenciais para a reconstrução das vidas impactadas. As enchentes trouxeram à tona a capacidade humana de superar adversidades e promover o bem-estar comum através da empatia e do trabalho conjunto.