ELLAS
MEB enaltece Bagé e seus 210 anos com poemas destacados na vitrine da LEB
por Viviane Becker
Morada antiga
(Severino Moreira)
É lindo ver a morada,
lá no lombo da coxilha,
campo de pasto e flechilha,
um caponete de cada lado.
É um recanto sagrado
para quem se criou na lida,
por ser nobre guarida
e o mais puro dos legados.
Há resquícios de passado;
e modernidade permitida.
Vislumbro histórias acolhidas,
Debaixo de sua cumeeira;
e, nas pedras da mangueira,
ficou o suor da escravidão...
Quantas charlas no galpão,
quantos mates na varanda,
é o tempo maula que manda
buscar recursos na evolução
e sem desgarrar do próprio chão;
e do destino que nos comanda...
O tempo te deu cara nova,
maquiou teu semblante.
O galpão virou casa do possante,
que aposentou o velho arado.
O poço se mostra empoeirado,
não precisa roldana nem balde.
Ficou tanta coisa “devalde”,
ao remoçar todo o rincão,
que até o velho lampião
virou relíquia do passado
e, hoje, dorme apagado,
num esteio do galpão.
Avenida Sete de Setembro
(Marilene Figueiredo Nunes)
Pelos idos dos anos 50,
era glamour
subir e descer a Sete.
Vestir-se, com capricho,
lustrar os sapatos
para, nela, passar
como se fosse desfilar.
Melhores roupas,
chapéus, toucas,
cabelos bem penteados,
com requintes, no passado,
era referencial e orgulho
para nossa cidade.
O tempo passou...
Mudaram os hábitos,
as pessoas e seus comportamentos...
Renovaram-se os pensamentos
e, na SETE, ficou a maior concentração
do comércio, bancos, carros e lojas
para todos os gostos e poder aquisitivo.
Todos por ali estão...
Todos por ali se cruzam...
Todos por ali se falam...
É lugar de encontros e reencontros
feitos nas cruzadas rápidas das pessoas.
Quer faça sol ou chuva,
lá está a SETE, sempre,
com o burburinho de pessoas e carros.
Somente silenciam os passos,
quando chega a noite...
Então, tudo silencia na madrugada...
Somente se ouve o farfalhar das palmeiras.
E a SETE fica encantada
debaixo das sombras altaneiras.
O início da Sete de Setembro
parece ser o final
que, de fato, por ironia,
é o fim do destino de muitos...
Desvelo
(Magda Cristina Silveira Gehres)
A lã, que cobre teu corpo,
lembra o aconchego do lar.
O calor ,que ela traz,
é puro amor que apraz.
Tecidos estes fios,
forma-se a trama,
que o destino irá cingir.
Na abrangência dos campos,
existe alguém a pastorear,
direcionando o rebanho,
para nenhuma ovelha desgarrar.
No tear da existência,
fia-se dia e noite,
enrolando dores, num novelo,
e desenrolando o desvelo.
Sol no Ocidente
(Marcia Duro Mello)
O sol, no ocidente,
desce banhado em luz...
Na conjunção com a câmera,
desce em forma de cruz.
A linha do horizonte
ganha banhos de caramelo...
Por detrás dos montes,
se desintegra o círculo amarelo
e se incendeia no azul céu...
Jogo de luz e sombra
faz o mistério da tarde quase morta
virar véu.
O arvoredo faz recortes no céu azulado
e o pampa se prepara para dormir...
O dia está fadado
a morrer lentamente
no manto de estrelas.
O cerne vegetal boceja
para a luz bruxuleante...
Então, que assim seja!
O Senhor descansa na luz!
Nós procuramos a luz!
Deixemos de ser itinerantes,
mutantes,
para nos encontrarmos no enlevo divino.
Em Santa Tecla, o Forte
(Jaime Barbosa Viviam Jr. – julho/2021)
Das estâncias jesuíticas, um posto se originou
em Santa Tecla em meio a marcos e bandeiras
O povo guarani ,aqui, chegou e lutou.
“Esta terra tem dono!” Sepé logo bradou.
Na coxilha grande, nascentes do Rio Negro,
os castelhanos marcharam e o forte fundaram.
De terra socada, um fosso ao redor e torrões,
com cinco baluartes de espaldões e muitos canhões.
Em março, Pinto Bandeira despontou!
Por vinte e seis dias, os lusitanos acamparam
por socorro os espanhóis as missões clamaram
muitos ataques os castelhanos rejeitaram.
No findar do mês, todos capitularam.
Nas dez carretas, a Montevideo rumaram.
E ,por ordem reais, os portugueses o fortim arrasaram
No entanto, no outro ano, castelhanos retornaram.
Os exércitos ,ao norte e sul, partiram;
mas uma guarda ficou e se chamou pelo Padroeiro.
Quando Diogo chegou; aqui, do acampamento
que povoou, de São Sebastião batizou.