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A partida de Luis Vagner: o 'Guitarreiro' de Bagé
por Viviane Becker
O bajeense foi reverenciado como um dos pioneiros do samba-rock no Brasil
Luis Vagner Dutra Lopes nasceu em Bagé e era considerado um dos principais nomes do reggae e do samba-rock no Brasil. Ele estava morando em Itanhaém, no litoral paulista.
O 'Guitarreiro', como ficou conhecido, era cantor, compositor e guitarrista. Sua partida, aos 73 anos, enquanto se recuperava do segundo acidente vascular cerebral (AVC), foi notícia no Brasil e rendeu uma série de homenagens de renomados profissionais da área pelas redes sociais. Ela deixa seis filhos.
Luis Vagner saiu da Rainha da Fronteira no início da adolescência. Sua trajetória profissional começou em 1963, em Porto Alegre, quando assumiu como guitarrista solo do grupo Os Jetsons. De 1963 a 1965, Vagner tocou com os Jetsons alguns gêneros da pré-história do pop brasileiro, como o twist e o rock'n'roll.
Músico teve seu nome eternizado em música de Jorge Ben Jor
Foi ao lado do cantor Jorge Ben Jor que o bajeense começou a introduzir o samba-rock no país. O cantor carioca compôs inclusive a música 'Luis Vagner Guitarreiro', em homenagem ao companheiro musical.
“Luis Wagner guitarreiro / Liga essa guitarra / E anima o terreiro”, pediu Jorge Ben Jor nos versos iniciais de Luiz Wagner guitarreiro, música com que, há 40 anos, fechou o álbum Bem-vinda amizade (1981) com saudação ao colega guitarrista.
Homenagens
"Sua versatilidade na guitarra era impressionante e misturava com poteÌ‚ncia o jongo, samba partido, maracatu, calango, funk, rock e baião. Muito impactante tambeÌm a energia de suas apresentações. Lembro com carinho e emoção dos shows do Guitarreiro que assisti no saudoso Grazie a Dio — um dos templos do samba rock de São Paulo. Meus sinceros sentimentos aos familiares, amigos e fãs", diz um trecho do post assinado por Alê Youssef, Secretário Municipal de Cultura de São Paulo, divulgado nas redes sociais.
Luis Vagner foi homenageado na Semana de Bagé de 2018. "Nosso homenageado na Semana de Bagé 2018 , o bajeense Luís Vagner Guitarreiro nos encheu de alegria quando veio à Bagé. Uma pessoa iluminada e que guardava recordações de sua infância em Bagé. Contava que sua ‘batida musical’ teve origem ao escutar o trem passando quando morava nos arredores da Panela do Candal. Ficou feliz com a homenagem recebida em sua terra natal e nós felizes de termos homenageado esse artista brilhante e que deixou um rastro luminoso quando esteve entre nós", declarou Heloisa Beckman, Diretora da Casa de Cultura.
Orgulho de ser bajeense
Ele se apresentava como cantor, compositor, produtor, palestrante e instrumentista brasileiro. Era filho e neto de músicos. Autodidata, aprendeu violão e guitarra ainda menino. Saiu de Bagé e foi para Santa Maria e depois ganhou o mundo integrando várias bandas e depois seguindo carreira solo. Tinha orgulho de sua cidade natal, apesar de poucos saberem de sua origem. Fez música em homenagem a Bagé, que ganhou destaque inclusive em uma apresentação sua na França, como contou o amigo Andrei. Fica o registro do Jornal MINUANO deste bajeense que fez história na música.
A ultima viagem a Bagé
O também bajeense, vocalista e guitarrista da banda Trem Imperial, Andrei Corrêa, que reside em Porto Alegre, foi quem teve a honra de acompanhar Luís Vagner na viagem de carro da capital dos gaúchos a Bagé. Amigos há mais de 10 anos, o músico relata as afinidades e os interesses em comum que os deixava ainda mais próximos. "Nascemos em Bagé, somos músicos, guitarristas e seguidores do budismo. Estar e conviver com ele era lindo. Contava histórias divertidas dos anos 70 de vários artistas. Ele fomentava amizades e gostava de lembrar dos amigos leais. Com frequência recebia áudios dele com lindos mantras. Participei da gravação do último clipe que ele lançou, também toquei na despedida dele de Porto Alegre", recorda.
Momentos especiais
"Ele estava feliz em ter retornado a Bagé em 2018. Quando estávamos entrando em Bagé, logo depois de passar pelo pórtico, ele bateu no meu ombro e disse: foi aqui que eu escolhi vim para terra". Isso mudou minha relação de ser bajeense, me ressignificou, foi uma frase muito forte. Do pórtico fomos direto para a Panela do Candal. Chegando lá, Luis Vagner ligou para mãe dele, e disse: Mamãezinha, sabe onde estou? Na Panela do Candal, em Bagé. Ele estava muito alegre. Fiquei feliz por ter sido a pessoa que fez o meio de campo entre a cidade e ele, era um sonho dele voltar a Bagé. Na época, o 'Guitarreiro' estava se recuperando do primeiro AVC, e isso foi muito importante para ele. Na panela ele apontou para o lado do bairro Aliança e disse: Papai era músico e tocava aqui. Foi lindo”, descreveu Correa.
A última mensagem de áudio recebida do amigo Luis Vagner, foi no dia 23 de abril, bastante debilitado, com dificuldade na fala, mas sempre com um tom sereno, emanando muita luza. "Andrei, meu querido e amado conterrâneo, que muito alegrou meu coração por me possibilitar a voltar na minha terra amada. Terra que cheguei nesse planeta para encontrar vocês todos... Tenho saudades de vocês imensa... Tudo de luz, muito amor, dignidade, carinho e tranquilidade para vocês é o que eu desejo. Vão fazendo o que tem que ser feito, um grande abraço. Muita saudade de vocês, beijo mano velho", mencionou, em seu último contato.