ELLAS
A vida mentirosa dos adultos
Adriana Di Lorenzo, Psicóloga e Psicoterapeuta Psicanalítica | adridilorenzo@uol.com.br
por Viviane Becker
Foi uma amiga argentina que me apresentou Ferrante. Comecei lendo “A amiga genial” e, depois dessa obra, não consegui mais parar de lê-la. Avessa a entrevistas e a redes sociais, a escritora italiana, ou escritor, usa o pseudônimo Elena Ferrante para se manter anônima e longe da imprensa. E foi exatamente esse mistério e a bela e caótica Napoli, pano de fundo da maioria de seus livros, que me seduziram.
“A vida mentirosa dos adultos” conta a história de Giovanna, uma adolescente que descobre pela voz do seu pai, sufocada pelo esforço de mantê-la baixa, que ela estava ficando feia e má, assim como a sua tia, até então, desconhecida. A partir dessa descoberta, Giovanna resolve olhar para o seu passado e vai atrás da tia para entender melhor sua história. E, através desse encontro, a personagem começa a montar seu quebra-cabeça e descobre que mentiras frágeis sustentavam sua vida há bastante tempo.
A vida imita a arte ou a arte imita a vida? É inevitável, no decorrer da leitura, não pensar nas diversas manobras e, porque não, mentiras que sustentam por anos relações desgastadas e destinadas ao fracasso. Mas por que se sustentam? Difícil dizer. Cada história é única, singular e sabemos que existem hábitos dos quais é difícil de sair. Mudar amedronta. Alterar a rota do leme não é lá muito fácil e para muitos seguir em frente é a única solução. Talvez, por isso, muitos amam pela metade, vivem de forma bastante líquida, superficial, e, com o tempo, acabam se afastando de quem realmente são.
Elena Ferrante, de alguma forma, nos mobiliza, nos mostra que é possível alterar o que algum dia nos determinou ou nos definiu. Ler Ferrante é um privilégio que me faz lembrar Clarice Lispector quando afirma “Não sei amar pela metade, não sei viver de mentira, não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre”.
A questão é: e você? Será sempre o mesmo? Para quem? E por quê? Pense nisso e leia Ferrante.