ELLAS
As “coisinhas” da vida
Aline Fontoura de Leon, Escritora e Poetisa
por Viviane Becker
Era uma tarde chuvosa e, como de costume, estávamos conversando e tomando café confortavelmente acomodadas. Sempre era momento de filosofar a respeito da vida e isso fazíamos com frequência. Naquele dia, não foi diferente quando, no meio da conversa, ouvi de minha amiga o seguinte: “Aline, o importante é ter coisinhas na vida” o que ela traduziu como o cultivo de afetos e pequenos prazeres e ainda completou: “Quem não tem isso, não tem nada”.
E eu que, muitas vezes, penso que preciso de mais coisas além das que já tenho, fiquei refletindo o quanto vivemos à procura de estímulos cada vez mais fantásticos, como se fosse preciso estar 24 horas por dia descobrindo algo que preencha alguma carência porventura existente. E o mais incrível é que esses estímulos, uma vez vivenciados, passam rapidamente e o ciclo se repete. Se ficarmos viciados, daqui a pouco teremos que encontrar outros grandes feitos e assim viveremos em uma eterna procura.
Claro que novas conquistas - materiais ou pessoais - produzem em nós uma certa motivação, porém, devem servir como incentivo, mas jamais como objetivos em si, pois é na rotina vivenciada a cada momento que a fantástica viagem acontece. São os nossos pequenos êxitos que dão sentido aos dias. E isso, atualmente, está fácil de esquecer. Somos levados a acreditar que é somente em cenários fabulosos que encontramos a tão procurada felicidade.
Até que chega o momento em que entendemos ser isso um grande engano. Sentir-se satisfeito com o trabalho que faz, com o lugar onde mora e com os amigos que tem é fundamental para o bem-estar necessário à construção de uma vida interessante. E isso é algo que se edifica com serenidade, é muito mais da essência que da aparência. Tem a ver com agradecer pelo que se tem, aprender todos os dias, cultivar amor em nossas relações e, acima de tudo, entender que estar satisfeito tem tudo a ver com aquilo que está ao nosso alcance, ou seja, com as nossas “coisinhas”, como disse, com muita sabedoria, a minha amiga.
E nesse ritmo frenético que vivemos acabamos por esquecer as sutilezas com que a vida nos brinda: o vento fresco batendo no rosto; um dia inteiro sem fazer nada, sem planos, sem destino; a possibilidade que temos de descobrir outros espaços dentro de nós; aquela música de antigamente; mexer em nossas gavetas e encontrar lembranças; compartilhar um café com filhos, amigos, companheiro etc.. Pensar nas miudezas da vida é dar-se conta que é nos vãos, naqueles pequenos espaços por onde, em qualquer circunstância, entram feixes de luz, que encontramos o verdadeiro ponto de equilíbrio entre o nosso eu interior e a face externa que apresentamos.
Seguir a vida sem precisar de tanto e perceber o quanto esse “arsenal de muitas coisas” é vendido pela mídia e a quem interessa, é meio caminho andado para transformar a realidade em que vivemos em momentos plenos de satisfação. Descobrir-se simples, leve e sem grandes bagagens a carregar é o primeiro passo para fazer da vida uma grande e confortável aventura. Embarque nesse astral e aproveite!