Os crimes da ditadura 2
A obra 'Os crimes da ditadura', editado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, é referência às transgressões e delitos praticados pelos seguidores de Júlio de Castilhos, antes, durante e após 1893. Contém relatos enviados aos jornais O Maragato e O Canabarro, então publicados em Rivera em vista dos episódios narrados. E transformados no livro de que se escolheram acontecimentos na região.
- 1891, o Vigário Capitular do Rio Grande do Sul queixava-se ao Vice-Governador do Estado, Dr. Fernando Abbot, das perseguições de que era alvo o Vigário de Canguçu por parte do Delegado de Polícia, que o ameaçava de expulsão daquela vila e de transformar a igreja Matriz em estrebaria, fato que se consumou durante a Revolução de 1893, por parte do já então intendente Bernardino da Silva Mota, profanação inédita na história do país.
- 1.08.1890. Chega a Bagé e é metido na cadeia para verificar praça como voluntário do 5º Regimento, o cidadão Júlio Pinto de Mello, Escrivão do Juízo de Paz em um dos distritos daquele Município.
-15.01.1891. A polícia de Bagé invade a casa do espanhol José Fernandes Araña, despronunciado pelo Juiz de Direito, esbordoa-o e mete-o na cadeia.
- 11.09.1891. No 2º Distrito de Cacimbinhas, o inspetor de quarteirão Joaquim Soares Azambuja e vários sequazes invadem a casa de João Bertini e o espancam cruelmente, o mesmo fazendo ao velho pai e a esposa. Depois metem os três na cadeia.
03.08.1892. As estâncias dos Tavares são invadidas pelos sicários do castilhismo, os quais tudo destroem, devastam e matam. É invadida a estância de Brasil Collares, que andava emigrado. Em casa achava-se sua esposa, a Exma. Sra. D. Silvana Brasil Collares. As forças invasoras, isto é, a quadrilha, eram da coluna ao mando do General Luiz Alves Pereira, da qual faziam parte Pedroso e Bernardino Motta (nota do articulista: Manoel Pedroso de Oliveira foi degolado no Rio Negro em 1893; e Bernardino Motta, referido em texto anterior, em desgraça com Júlio de Castilhos, foi obrigado a emigrar para o Uruguai).
17.08.1892. El Nacional, de Melo, Departamento de Cerro Largo (Estado Oriental), publica uma carta de Asseguá (nota: grafia da obra), datada de 2 de agosto, narrando o assalto à estância de Terêncio Saraiva. Quarenta homens, chefiados por João Delfino dos Santos e Manoel Furtado, praticam malefícios de todos os gêneros. Roubam a Terêncio três mil pesos e o prendem, como a dois peões orientais, levando-os à presença do malfeitor Elias Amaro, elevado a General (não sem o protesto do Coronel Cezar Sampaio) na estância de Satyro Madruga. Os três são saqueados, ficando dias e noites, e sem comer, expostos ao tempo. Por fim, dois orientais são degolados, sendo fuzilado Terêncio, que é, de pedra ao pescoço, lançado em um banhado, no Salsal, depois de despojado de dinheiro, joias e documentos (nota do articulista: Terêncio Saraiva era primo de Gumercindo e Aparício Saraiva, o que influirá na participação dos mesmos em 93). Os orientais Antônio Romero e Olegário Lopes recusaram-se a cometer ou tomar parte nos assassinatos, pelo que foram expulsos da divisão de Elias Amaro. Antes de Terêncio seguir viagem, os chefes da escolta fizeram-lhe ver a conveniência de levar bastante dinheiro para a Capital do Estado onde devia de ter certa representação. Meia légua distante da porta da casa, nas pontas de Upamaroti, apareceu degolado o fazendeiro Vasco Gonçalves, cidadão bem visto, maior de 70 anos, conhecido por Vasco Brabito. A façanha bárbara é praticada pela força civil da legalidade.
{AD-READ-3}04.09.1892. São degolados nas imediações da cadeia de Pelotas, diversos presos políticos, inclusive um primo de Gumercindo Saraiva.
(continua).