A igreja dos padres (2)
Os projetos educacionais do Monsenhor Costábile não medraram pelo prestígio que a comunidade bajeense da época dirigiu à obra dos salesianos e freiras, muito apoiadas pelos poderes públicos. Em junho de 1904, anunciava-se a pedra fundamental do estabelecimento de ensino. A inauguração deu-se 2 de março de 1904.
“Vasto prédio na Rua 3 de fevereiro”, noticiava a imprensa, defronte ao Telégrafo Nacional, antes pertencente à senhora Adelaide Galibern dos Santos, mas pensando-se em outro onde funcionava a Enfermaria Militar, pertencente à Sociedade Portuguesa (onde seria, depois, o Colégio Melanie Granier). Na pedra fundamental eram paraninfos José Octávio Gonçalves, Cândido Tavares Bastos, Antonio Pimentel Magalhães, Maria Carolina Neto Gonçalves e Carolina Xavier e Ana Vasques Magalhães.
Para a obra, foi contratado Jorge Lourenço Laranjeira, por 47.880$000, pagos em prestações. Neste prédio, em 1908, separou-se um salão para servir de capela e teatro, logo abençoados pelo Vigário Costábile Hipólito. Surge logo uma fecunda campanha para se criar uma paróquia em homenagem a Nossa Senhora, pois Bagé somente tinha uma outra, a de São Sebastião, o que aconteceu em 8 de maio de 1929 através de ato do Bispo de Pelotas, sendo seu primeiro vigário o padre Francisco Gaiotto, então diretor do Colégio. Impunha-se, como natural, a exigência de um templo para homenagear a mãe de Jesus. Comprou-se, então, um imóvel vizinho ao colégio (1922), sendo lançada a pedra fundamental em 24 de maio de 1923. O projeto da igreja foi do engenheiro salesiano padre Vespignani e sua construção coube a Heitor Schneider, também da comunidade salesiana.
As colunas e os arcos da futura igreja foram elevados em 1924. Teve presença também o padre Teófilo Twórz. O telhado foi posto em 1927, armaram-se as abóbadas e a torre. Chegou o carrilhão de 5 sinos, abençoados por Costábile. O primeiro sino levava a nome do Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora Auxiliadora o segundo; São José o terceiro; o 4º em nome de São Francisco Salles; e o 5º em nome de Dom Bosco e Domingos Sávio.
As abóbadas foram concluídas em 1928 e a Cruz colocada nos altos da torre. Em 1928, foram inaugurados os sinos, tendo chegado ao município o relógio, doado pelo Intendente Carlos Mangabeira, que passa a colaborar com afinco. Os vitrais são colocados e a estátua de Nossa Senhora, tendo esta custado cinco contos, dádiva de uma devota. O revestimento interno é em cor branca.
Embora não concluída totalmente, a igreja é inaugurada em 24 de maio de 1929, presentes mais de oitocentas pessoas. Acontecem grandes festividades em comemoração ao evento. Quando Dom Bosco é canonizados (1934), sua imagem passa a ocupar um átrio lateral (09.09.1934), transformado em capela pelo padre Hugo Neves Ferreira (1962).
O padre Edgar de Aquino Rocha, em maio de 1943, sugere a lâmpada votiva, que se torna a marca da atividade católica, consagrando a data de 24 de maio, que os bajeenses veneram por mais plagas distantes estejam. Embora a cidade já tivesse um padroeiro (São Sebastião), a municipalidade proclama Nossa Senhora Auxiliadora tambem como padroeira em 02 de junho de 58.
{AD-READ-3}A “Igreja dos padres”, como é carinhosamente chamada, nestas décadas todos de governos, modismos e mudanças, sofreu também o abalo dos “novos tempos”. A presença dos crentes estilou-se; contam-se nos dedos as vozes que entoam os cantos e as rezas. No caso concreto da Igreja Auxiliadora, apenas um núcleo de abnegadas mantém viva a chama da fé, lutando, lutando e lutando contra a indiferença e o desamor ao credo mariano e mantendo com mil sacrifícios que ainda as históricas paredes repercutam os acordes que encantavam nossos ancestrais. Graças a essa denodada equipe e hoje também ao combativo Frei Eudes se pode festejar ainda a presença física de um templo por onde navegaram as nossas memórias e sonhos, levados pelas mãos de nossas mães e pais que olhavam para a Auxiliadora e o azulado que a iluminava, lá em cima, para que fosse para todos sempre a Mãe Dadivosa.
Sim, temos o compromisso de manter acesa a flama desta tradição. Para que as paredes da igreja revivam a brancura que os seus construtores quiseram pontuar, como símbolo das melhores intenções cristãs.