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Bagé é apontada em estudo como uma das cidades com as maiores taxas de intensidade solar
O Atlas Solar, desenvolvido por professores e estudantes da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), aponta Bagé como uma das cidades com maior taxa de intensidade solar da região Sul. O estudo é fruto de um projeto de pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). A análise teve início em 2016 e foi finalizada neste ano.
O projeto foi coordenado pelo professor da Uergs, Rafael Haag, e teve a participação do professor Fabiano Perin Gasparin e dos alunos Raiana Schirmer Soares, Geórgia Andrade Tomaszewski, Claudineia Brazil e Augusto Blauth da Silva. De acordo com Haag, o Atlas servirá como uma importante ferramenta na elaboração de projetos e análises de sistemas que usam a energia do sol, sejam eles para fins térmicos ou conversão em energia elétrica, além de disseminar o uso da fonte renovável.
Segundo o pesquisador, o Rio Grande do Sul, atualmente, ocupa a segunda colocação no País em potência solar fotovoltaica instalada (70 MW), ficando atrás, apenas, de Minas Gerais (101 MW). Esses números mostram que o Estado é receptivo ao uso da energia solar e que a fonte renovável ocupará uma posição de destaque na matriz energética do Estado e no Brasil", diz.
Os dados empregados no Atlas Solar foram oriundos de medidores da radiação solar denominados de piranômetros. Os instrumentos medem de forma contínua a radiação solar incidente na superfície da Terra. Na confecção deste Atlas Solar, foram utilizados dados coletados por piranômetros instalados em 34 cidades do Rio Grande do Sul, incluindo Bagé.
Haag explica que esse é o primeiro Atlas Solar do Rio Grande do Sul e o primeiro a utilizar dados medidos em superfície com equipamentos de precisão instalados em estações automáticas do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Segundo ele, a energia solar passa por um verdadeiro "boom" no País, apresentando taxas de crescimento superiores a 300% nos últimos anos. “Essa determinação precisa do potencial solar no Estado e é extremamente importante na hora de projetarmos os sistemas fotovoltaicos a serem instalados”, comenta.
Potencial
Conforme o coordenador, Bagé, assim como a toda a região da Fronteira Oeste, apresenta os maiores índices de radiação solar de todo Estado. Isso se deve a menor presença de vapor de água na atmosfera, o que acarreta uma menor quantidade de cobertura de nuvens.
Para ele, pelo fato do município possuir um elevado potencial solar, os sistemas de energia solar irão apresentar uma melhor produção energética em relação as outras cidades do Rio Grande do Sul. “Bagé também pode incentivar a instalação de usinas de energia solar de grande porte. As usinas já são realidade no Piauí, Bahia e Minas Gerais. Elas trazem um incremento na arrecadação do município e sinalizam uma postura de vanguarda destas regiões na implantação da energia que será a base energética em todo o planeta nos próximos anos”, destaca.
O Atlas e todos os dados produzidos pelo Grupo de Pesquisa em Radiação Solar e Ciências Atmosféricas da Uergs estão disponíveis gratuitamente (através do site www.atlassolarrs.com).
Eficiência energética
A utilização do potencial solar já é uma realidade na região. O Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), em Bagé, já conta com geração de energia fotovoltaica, obtida pela absorção e conversão da luz solar em energia elétrica. Conforme o engenheiro civil e fiscal da obra no IFSul, Célio Ziotti, a implantação de usinas de Geradores de Energia Solar Fotovoltaicos nos institutos federais é uma iniciativa do IFSul de Minas Gerais e que foi, através de adesão, replicada em mais 83 campi de institutos federais em todo o Brasil. No IFSul, foram contemplados Bagé e Charqueadas. No campus local foi instalada durante o mês de julho de 2017. O investimento total foi de R$ 467.438,57 sendo 50% diretamente do Ministério de Educação e Cultura (MEC), 25% da reitoria do IFSul e 25% do orçamento do campus Bagé.
Segundo o engenheiro, o objetivo da instalação está sendo cumprido, uma vez que aproximadamente 40% (média anual) da energia consumida é fornecida pela usina. “Por ser uma instalação padrão aplicada em diversos locais, ela não foi projetada para atender a 100% da demanda, mas sim contribuir parcialmente com o consumo do campus”, disse.
O engenheiro conta que usina funciona em paralelo com a rede da distribuidora da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). “Desta forma, quando a geração é inferior ao consumo, complementamos com energia da rede”, explica. Conforme Ziotti, nos momentos em que a geração é maior que o consumo, há o envio de energia para o sistema. Ao final do mês, a diferença entre consumido e fornecido é a conta que é paga.
Ziotti ressalta, que devido às variações de tarifas e à vigência ou não de bandeira vermelha, o consumo de quilowatts hora (KWh) varia de acordo com a sazonalidade, no inverno com menos horas de sol diárias, a produção é significativamente menor que no verão.
O consumo do instituto era de 12.575 kWh em agosto de 2016, antes da instalação: no mesmo mês em agosto de 2017, após instalação baixou para 8.418kWh; em março de 2016, antes da instalação, 15.979kWh; e em março de 2018, pós-instalação: 7.075 kWh. “Se considerarmos ainda que o inverno de 2017 foi significativamente mais rigoroso, o que gera um aumento na demanda de aparelhos de aquecimento, podemos considerar como satisfatória a operação da usina até o momento. Pois está gerando economia financeira além do incentivo ao uso de energias limpas e renováveis em atendimento ao Plano de Logística Sustentável do IFSul”, disse.
Posto Aceguá
O posto de combustível mais antigo de Aceguá aderiu, de forma pioneira, a energia solar. A empresa, que tem 66 anos, implantou, há cerca de 90 dias, mais de uma centena painéis fotovoltaicos em toda a extensão do telhado do posto.
De acordo com uma das proprietárias do posto, Liliana Leite Correia Ricardo, a ideia partiu de seu marido, João Sidnei Ricardo. Foram investidos cerca de R$ 200 mil para a implantação. Liliana comenta que a energia renovável é uma das formas de economia e mostra que um posto de gasolina pode contribuir com o meio ambiente.
A empresária destaca que, em 90 dias, foi possível baixar a conta de energia em mais de 80%. “Pagávamos em torno de R$ 8,5 mil e chegamos a pouco mais de R$ 1,2 mil”, frisa. Ainda segundo ela, além da empresa investir na energia limpa, há uma preocupação em plantar árvores no entorno e manter o ambiente agradável.
Liliana enfatiza que com o potencial solar que tem na região é possível compensar 100% da energia e pode ser acessado por todos. Conforme João, a ideia de implantar o sistema vai ao encontro da parceria com a Ipiranga, que tem a preocupação com a sustentabilidade. "Devido ao alto custo da energia em Aceguá, o investimento é economicamente viável", define.
A Estância Guatambu, em Dom Pedrito, também possui o sistema.