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Guilherme Collares

  • Professor de Medicina Veterinária na Urcamp | Doutor em Parasitologia
  • guilhermecollares@hotmail.com

Minarete

Em 04/05/2024 às 16:50h, por Guilherme Collares

Todos voltamos ao ponto de partida. Gostando ou não. Do pó ao pó.

Todas as manhãs, Cabaquá, envolto em seu poncho de oração, saúda o sol e as estrelas. O canto de evocação ecoa pelos rincões e canhadas, retumbando no horizonte, viajando longe, na cerração. A tolderia desperta sob o lamento. As mulheres, esfregando os olhos, buscam água e os primeiros sinais de fogo se alçam em fumaça.

Até quando?

Cada vez mais as vacas e bois andam escassos. Os cavalos ainda correm pelas planuras, pois não servem para couro e sebo. Segundo o branco corrido, que vive com eles há vários anos, o homem branco caça sem fome e extermina por dinheiro. Diz esse, que chamam Cruz, que os couros e a graxa dos gados é reunida e mandada pelo mar a um lugar distante. Cabaquá não conhece a grande água. Seu avô a viu e contava da imensidão, a perder de vista. Eles não entendem muito bem o que é o tal dinheiro. Não necessitam comprar nada. Tudo de que precisam vem dos campos. A carne dos gados e os cavalos; os baguais que domam com paciência e carinho. Não entendem como os brancos delimitam os espaços, se apossando do que é de todos. O avô de seu avô contava, que há tempos, não existiam gados e nem cavalos, e nem os brancos. Que os Charruas eram senhores desse mundo.

Cabaquá responde agora por seu povo. As várias tribos reunidas decidiram que os brancos não são amigos. Alguns contam de sua gente sendo levada embora, pela grande água, a um grande chefe branco, para nunca mais voltar. Caçam os gados, tiram os couros e a graxa e deixam a carne. Centenas apodrecendo. E o povo de Cabaquá esquivando a fome. Cruz diz que vieram para ficar e que cada vez serão mais e mais.

Cabaquá vê seu mundo apequenar-se diante dos olhos. Precisam levantar os toldos e buscar as gadarias. Cada vez mais longe. Sempre em menor número. Morrem mais crianças pequenas. Os velhos duram menos. As mulheres choram. A fome assola seu povo. O Grande Espírito não responde há várias luas. Cabaquá evoca ao amanhecer, como seu pai, o mesmo que seu avô. Não há resposta, apenas silêncio e cerração. Seu pai foi da guarda do Grande Pai Artigas. Foi o único branco que tratou o Charrua como igual. Mas foi traído pelos seus e foi embora. Seu pai, Anacuá, voltou derrotado, e morreu poucas luas depois.

Desde que vieram para os campos à beira do grande Rio dos Pássaros, a pedido do chefe Rivera, têm esperado e esperado. Ele os prometeu paz e abundância. As várias tribos compareceram, em conselho interno, esperando a boa nova. Alguns caciques desconfiaram e atravessaram pros campos portugueses. Cabaquá tem muitas crianças e velhos e, fugir por fugir, aqui dá no mesmo. Não é possível que pai Rivera esteja mentindo a todos eles. Só resta esperar o grande conselho com ele presente, atrasado pelas chuvas do inverno.

Mais além, no Salto Grande, os vaqueanos encontraram uma gadaria. Mesmo com as chuvas, terão que levantar acampamento. As crianças e os velhos irão como puderem. Os guerreiros saem primeiro. Ele ficará com os retardatários. É o responsável por seu povo. Mesmo no Salto Grande, ficam próximo ao Salsipuedes, onde o chefe Rivera os encontrará. Só resta caçar e esperar. E buscar o Grande Espírito, todas as manhãs, pelo canto de oração. Não é possível que tenham sido esquecidos. Resta segurar o aperto no peito e guiar os seus. Mesmo que sinta seu mundo chegando ao fim.

Do pó ao pó.

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